São Paulo (AUN - USP) - Os transplantes são procedimentos cirúrgicos complexos. São comuns os problemas enfrentados com a compatibilidade entre doador e receptor, e com a esterilização do material a ser doado. Pelo menos nessa última categoria, os pacientes do HC (Hospital das Clínicas) que esperam por um transplante de pele têm como aliada uma tecnologia de ponta. O Ipen (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares) desenvolve, em parceria com o HC e a IAEA (Agência Internacional de Energia Atômica), um projeto de esterilização de tecidos através de radiação ionizante.
Com o apoio financeiro e técnico da IAEA, o Ipen expõe os tecidos fornecidos pelo HC à radiação gama. Esse procedimento mata as bactérias, reduz a chance de doenças contagiosas serem transmitidas e minimiza a imunogenicidade.
Já foram feitos vários transplantes no departamento de Cirurgia Plástica e Queimaduras do HC com os tecidos esterilizados pelo Ipen. O resultado, segundo Monica Mathor, pesquisadora do instituto, foi igual ou ainda melhor ao registrado em transplantes em que os tecidos não sofreram esse tipo de esterilização.
Por enquanto o serviço de esterilização não está sendo cobrado pelo Ipen e pelos outros envolvidos no projeto. Em uma fase posterior, quando a radioesterilização estiver mais disseminada, será feito o repasse dos custos da irradiação dos tecidos para os respectivos Bancos de Tecidos.
A esterilização por irradiação apresenta algumas vantagens em relação aos métodos mais usuais responsáveis por esterilizar tecidos. O óxido de etileno, o mais utilizado por hospitais, por exemplo, pode liberar gases que danifiquem os tecidos, além de deixar resíduos. A esterilização por calor, também muito usada, pode causar danos na composição biológica da pele. A radioesterilização supera esses problemas e oferece uma vantagem adicional. Como os tecidos são irradiados já embalados, eles não são manipulados posteriormente, ao contrário do que acontece com os outros métodos, e portanto, os riscos de uma recontaminação são bastante reduzidos.
De acordo com o processo de preservação a que o tecido foi submetido, o procedimento de irradiação pode variar. Os enxertos de pele que vem do HC são preservados no glicerol. Para esse caso, a fase de pesquisa já foi finalizada e se tem domínio completo do procedimento de esterilização. Em outros casos, pesquisas ainda estão sendo feitas. O Ipen também está desenvolvendo estudos para que a irradiação dos tecidos possa ser feita pelo acelerador de elétrons, o que reduziria o tempo gasto em cinco vezes.