São Paulo (AUN - USP) - Há sempre um copo de mar para um homem navegar. Esse é o tema da Bienal de São Paulo, aberta desde o último sábado (25). Nessa edição, a mostra volta suas atenções para a política de forma mais abrangente: danças, debates, performances, filmes e até mesmo aulas compõem o trabalho feito por curadores, artistas e organizadores.
Agnaldo Farias, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP e curador convidado da 29ª edição da Bienal de São Paulo, apresentou aos seus alunos no último dia 16 o planejamento da exposição. Farias, que acredita que seu trabalho como curador é uma extensão da atividade acadêmica, explicou aos estudantes a elaboração de cada setor e do próprio tema da exposição.
“Escolhemos arte e política como tema porque, hoje em dia, é possível pensar em política sem pensar necessariamente em denúncia”, explica o curador. “Essa visão da política é muito restrita e reduzida. Nós não compartilhamos dela. Queremos mostrar que existem trabalhos políticos de outras ordens.”
Com uma verba de 30 milhões de reais e a colaboração de 159 artistas, o evento conta com seis pavilhões, projetados para fazer com que o visitante se perca na exposição. “Logo ao entrar na exposição, as pessoas se depararão com dois caminhos para seguir. Todos terão que fazer escolhas e acabarão perdendo partes da mostra, mesmo com o mapa em mãos”. O curador justifica esse tipo de projeto alegando que eles ilustram os impasses na vida de cada pessoa, o que as obriga a tomar decisões.
Farias explica que cada espaço é dividido em salas, mas que os espaços entre cada uma formam salas secundárias, desorientando quem passeia pelas chamadas “ruas”, “praças” e “vielas” projetadas em cada pavilhão. “É tudo imprevisível”, conta.
Os pavilhões em que a Bienal está dividida, segundo o professor, trazem diferentes propostas de discussões. “Haverá mostras trabalhando linguagem, visão de si e do mundo, danças, performances, debates, palestras, análise da memória social, ideologia e religião”. A abordagem política surge das formas mais variadas, desde as obras peculiares até a forma das paredes. “A materialidade, a escala, o tamanho de uma parede falam.”
A riqueza de conteúdos deixa claro o desejo de Farias de atingir o máximo de interessados possível nesta edição da Bienal. “Do meu ponto de vista, a missão de uma Bienal de São Paulo é formar as pessoas oferecendo insumos estéticos, que são as artes”. O professor se mostra preocupado com o “apoliticismo” da juventude atual. “Essa é minha grande preocupação como professor. Criou-se uma desobrigação de pensar.”
Farias explica que quer tirar a arte política da localização secundária que ela ocupa atualmente. Confiante na capacidade transformadora da arte, espera que essa consiga desestabilizar as pessoas e promover uma reflexão por parte dos visitantes. “Hoje, a cultura virou algo volátil, epidérmico. Por isso, queremos surpreender e contribuir para a formação das pessoas.”