ISSN 2359-5191

18/10/2010 - Ano: 43 - Edição Nº: 86 - Sociedade - Instituto de Psicologia
Burocracia e falta de estabilidade impedem eficiência de servidor público
Funcionários de cargos comissionados revelam que falta motivação e preparo

São Paulo (AUN - USP) - A tese de doutorado defendida no Instituto de Psicologia da USP pela psicóloga Nanci Fonseca Gomes contou com confissões dos próprios servidores públicos. Intitulada “A conduta moral na administração pública: um estudo com ocupantes de cargos comissionados”, o estudo revelou que os abusos se relacionam a ineficiência e beneficiamento individual – derivadas da falta de estabilidade, burocracia e incapacidade de defender os interesses sociais que impera no funcionalismo público. Os que ocupam os cargos chamados comissionados são aqueles que não passaram por concurso público, mas sim por indicação.

O estudo foi elaborado através de dez entrevistas com gestores públicos, ocupantes de cargos nomeados, comissionados do governo do Estado de São Paulo e funcionários de carreira (concursados), em geral exercendo a função de chefia, coordenação ou assessoria.

“O interesse em realizar esta pesquisa surgiu, em parte, pela atuação como psicóloga e educadora, atuando na área da psicologia do trabalho aplicado à administração pública há mais de duas décadas”, de acordo com Nanci.

Uma das conclusões é que a atuação ética tem relação com o fim do período de mandato de governo – quando os funcionários comissionados são exonerados. Assim, o prazo predeterminado de trabalho pode facilitar, a alguns gestores, desvios de conduta e baixo comprometimento com os propósitos da gestão pública.

Uma frase de um dos entrevistados exemplifica bem essa questão: “quem tem cargo concursado tem o semblante mais tranquilo, sabem que vão continuar lá”. Além disso, alguns comissionados com indicação política, sem cargo de carreira, acabam ficando de “saia justa”, pois alguns acabam não entrando em confronto com o funcionário que é estável. Eles exigem menos do desempenho dos subordinados. “Há uma força nos funcionários de carreira, eles têm um poder paralelo, principalmente quando deixam clara a familiaridade com ocupantes de cargos importantes”. A insegurança com relação ao término da ocupação do cargo pode também tornar mais difícil a elaboração de projetos de longo prazo.

A esperança está em um movimento contrário de a resistência, principalmente, nos que estão há mais tempo no exercício da função, que passam a se sentir constrangidos com a ineficiência, que, segundo Nanci, é “um passo importante para combater a indiferença, mas ainda pequeno para lutar contra os pressupostos que geram essa frieza. A perda da autonomia e da consciência, da identificação com o outro e consequentemente do senso de justiça, inviabiliza a capacidade de solidariedade e de prazer no trabalho”.

Algumas afirmativas são bastante reveladoras de tudo o que está por detrás da grande morosidade dos serviços do Estado.

Burocracia: “não há autonomia, estamos muito amarrados pela burocracia. E, infelizmente, percebo que há interesse que esse modo de funcionar continue e há esforço para ser mantido dessa forma”.

Incompetência: “hoje com outras chefias fui desmotivando e fui estagnando, parece que tem que emburrecer‟. [...] Eu ligo escondido para outros colegas de outra secretaria para pedir respaldo, ou trocar ideia, pois a chefia imediata não entende nada do assunto.”

“Você pode ver colegas enrolando. Mas tem que trazer resultados. Não sei se vem dessa época do marajá. [...] Quanto à qualidade, tem fundamento. Há falta de educação entre os funcionários, falta profissionalismo, tem dificuldade em separar o particular do profissional. Há em alguns, má vontade”.

Desmotivação: “não há capacitação aos funcionários. As pessoas não veem sentido no que fazem e muitas vezes não sabem o propósito ou não têm interesse nesse propósito. Há pessoas sem engajamento”.

Interesse público: “Infelizmente os interesses internos muitas vezes não consideram as necessidades da população. Com certeza estamos devendo a ela.”

Iniciativa dos gestores: “acredito que os funcionários se envolvam mais nos projetos se houver um motivo que os leve a participar e se sentirem valorizados. Aí está a capacidade do gestor de apresentar de forma legítima as reais vantagens do projeto a ser implantado de acordo com os interesses públicos. Esse é o desafio”.

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