São Paulo (AUN - USP) - O laboratório de Metabolismo da Célula Tumoral do Instituto de Ciências Biomédicas da USP acaba de descobrir um novo composto que pode curar gliomas, tumores cerebrais de alta gravidade. No entanto, inicialmente a pesquisa teve que ser modificada para atender a interesses comerciais. A substância foi feita a partir de uma nova molécula com o elemento rutênio (Ru), sintetizada pela professora Denise de Oliveira Silva, do Instituto de Química da USP. Esse composto foi testado em células cancerígenas in vitro, ocorrendo redução no seu desenvolvimento.
O di-rutênio, como foi chamado, pode se ligar com outras moléculas químicas, como o ácido gamalinolênico. Esse último, segundo pesquisas do próprio laboratório, também possui a propriedade de inibir o crescimento dos gliomas. Mas, segundo Marcel Benadiba, pesquisador do laboratório, as pesquisas com esse ácido graxo foram adiadas, mesmo sabendo os grandes efeitos que essa mistura poderia causar nos tumores. “A indústria tem muita resistência em investir em gordura”, explica ele. O ácido gamalinolênico é um ácido graxo advindo da gordura vegetal.
Por essa razão, as pesquisas iniciais estão sendo feitas com o ibuprofeno, substância já utilizada pela indústria farmacêutica em remédios anti-inflamatórios como o Advil e o Alivium. Foram feitos testes com diversos produtos, como a aspirina, neproxeno e a endometacina. O ibuprofeno foi escolhido por apresentar menos efeitos colaterais e é necessário na fórmula para manter a estabilidade do di-rutênio, como foi chamada a molécula sintetizada por Denise.
Apesar de ser potencialmente menos eficiente que esse composto ligado ao ácido gamalinolênico, o ru-ibuprofeno tem apresentado resultados positivos nos testes in-vitro.
Os experimentos demonstraram grande inchaço nos núcleos das células atingidas pelo medicamento. Isso indica que o rutênio paralisa a divisão celular, impedindo o desenvolvimento do tumor. Além disso, observou-se a proliferação de radicais livres, que geram a morte celular programada (apoptose).
O elemento rutênio já havia sido utilizado em outras pesquisas, mas disposto em moléculas diferentes. “Estudos anteriores haviam demonstrado que o elemento, em outra molécula, tem capacidade de se associar ao DNA e prejudicar sua proliferação”, conta Benadiba.
O Ru-ibuprofeno atinge inclusive células resistentes, que usualmente não são afetadas por nenhum produto. Aplicado em tecidos normais, o medicamento não causou nenhuma alteração a curto prazo. Por causa da grande aceitação do ibuprofeno no mercado, caso aceito pela industria, o ru-ibuprofeno pularia os testes em animas de médio porte, passando dos experimentos em camundongos para cobaias humanos.