ISSN 2359-5191

26/10/2010 - Ano: 43 - Edição Nº: 91 - Saúde - Faculdade de Odontologia
Medo e esperança marcam recuperação de pacientes com mutilação oral

São Paulo (AUN - USP) - Pacientes que passaram por mutilações orais em razão de tumores vivem entre o medo do retorno da doença e a esperança da ressocialização. É o que aponta a tese de doutorado de Fernanda Campos Sousa de Almeida, pesquisadora da Faculdade de Odontologia da USP (Universidade de São Paulo), apresentada em 27 de setembro.

Para chegar a esta conclusão, Sousa entrevistou seis pacientes recém-curados de tumores benignos ou malignos que, para serem tratados, tiveram que perder partes dos dentes, bochecha, palato, mandíbula ou língua, o que afetou profundamente a comunicação e a inserção deles no meio social.

“O resultado desses procedimentos é a desfiguração do indivíduo, a perde de sua autoimagem, autoestima e reflexos na sua vida social, profissional, familiar e pessoal”, afirma a pesquisadora.

Após a recuperação do câncer, os pacientes passam a conviver fundamentalmente, segundo Sousa, com o medo de que tumores voltem a acometê-los - o que gera um profundo respeito à doença - e o desejo de conseguir voltar ao convívio social, ainda que com sequelas e limitações. "Os discursos transparecem um paciente que, a despeito de toda dor, quer sorrir, 'abrir a boca' para o mundo, para os seus familiares", diz.

De acordo com a pesquisadora, a esperança encoraja os pacientes a enfrentarem diversas formas e métodos de recuperação. "A esperança permite que se sujeitem a mais e mais exames médicos, moldagens e provas de prótese, sempre com a expectativa de encontrarem uma derradeira cura para os seus problemas de saúde e uma solução para as seqüelas das mutilações."

A pesquisa aponta ainda que o acolhimento dos pacientes no pós-operatório e o desenvolvimento de próteses podem ser decisivos no processo de ressocialização. "A prótese é um elemento simbólico e é capaz representar cuidado e retomada de uma história paralisada pelo diagnóstico e pelo tratamento mutilador", afirma Sousa.

“Devolver dentes, recuperar a estética facial e restabelecer a comunicação do paciente mutilado de cabeça e pescoço é mais que uma simples obrigação: é a vocação da prótese maxilofacial e da Odontologia”, acrescenta.

Causas de câncer de boca
Mais de 80% dos pacientes com câncer de boca são fumantes. Os danos nesses indivíduos ainda podem ser potencializados pelo consumo de álcool, segundo a pesquisadora. Já para o câncer de pele e de lábio, o principal agente causador é a exposição aos raios ultravioletas. A maioria dos casos de tumores benignos e malignos da cavidade bucal é tratada por cirurgia, mas a radioterapia, quimioterapia e imunoterapia podem ser utilizadas para complementar o tratamento cirúrgico ou mesmo como alternativas exclusivas em casos menos frequentes, de acordo com Sousa.

Política pública
A pesquisadora afirma que, apesar de terem ocorrido avanços na área de saúde bucal do SUS (Sistema Único de Saúde), falta no Brasil uma política em nível nacional de reabilitação complexa de indivíduos mutilados, o que obriga os pacientes a se deslocaram até o eixo Rio-São Paulo e, consequentemente, se afastarem dos familiares. afirma que, apesar de terem ocorrido avanços na área de saúde bucal do SUS (Sistema Único de Saúde), falta no Brasil uma política em nível nacional de reabilitação complexa de indivíduos mutilados, o que obriga os pacientes a se deslocaram até o eixo Rio-São Paulo e, consequentemente, se afastarem dos familiares.

“Esperamos, portanto, que a política nacional para câncer de boca, que está sendo elaborada, contemple aspectos da alta complexidade e possa diminuir o profundo sofrimento que esses pacientes passam nos seus tratamentos. Sofrimento que poderia ser minimizado pela presença de familiares e amigos ao lado do doente", diz.

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