ISSN 2359-5191

26/10/2010 - Ano: 43 - Edição Nº: 91 - Educação - Faculdade de Odontologia
Projeto da Odontologia atende mais de mil crianças em Cananéia (SP)

São Paulo (AUN - USP) - Uma equipe formada por professores e estudantes da Faculdade de Odontologia da USP (Universidade de São Paulo) atendeu 1.153 crianças e adolescentes em comunidades carentes de Cananéia (a 270 km da capital paulista) nos meses de julho e setembro desse ano. No projeto de extensão, que leva o nome do município litorâneo, foram realizadas aplicações de flúor, remoções de dentes do ciso, tratamentos de cárie, raspagens da gengiva, além de ações educativas.

O Projeto Cananéia 2010 focou os alunos de escolas municipais de ensino fundamental e médio das comunidades ribeirinhas de Acaraú, Carijó, Itapitangui, Porto Cubatão, Ariri, Marujá, Pontal do Leste e Enseada da Baleia, a partir do levantamento de necessidades e da identificação das áreas de risco. Em geral, os moradores são carentes e sobrevivem da pesca e do turismo. Cananéia está no Vale do Ribeira, região mais pobre e com menor IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do Estado de São Paulo.

A maior parte das vilas já foram atendidas em anos anteriores, segundo o professor Antonio Carlos Frias, coordenador do projeto. “Como tem uma função educativa, é um processo que requer continuidade. Em Ariri, por exemplo, a partir da nossa visita e dos retornos, a população começou a ficar mais consciente, e eles conseguiram que um consultório fosse aberto”, diz. “A nossa participação propicia que a população tenha consciência do direito ao acesso à saúde e pressione o Poder Público”, afirma o docente.

Na primeira etapa do projeto, realizada de 4 a 10 de julho, 573 pessoas foram atendidas, das quais 218 tiveram que ser submetidas a procedimentos odontológicos. Já na segunda etapa, entre 7 e 11 de setembro, dos 580 estudantes avaliados, 180 tiveram que passar por algum tipo de tratamento. Também foram distribuídos 1.600 kits de escovação infantis e 600 kits adultos.

As ações foram realizadas em parceria com as secretarias municipais de Saúde e Educação. Os atendimentos aconteceram nas estruturas das próprias escolas, em Unidades Básicas de Saúde (UBS), associações e em uma unidade móvel emprestada pela Associação Paulista de Cirurgiões Dentistas. Os pacientes com casos mais complexos foram orientados a procurar atendimento das Unidades de Saúde de Cananéia.

Incidência de cárie
Tanto na primeira etapa, quanto na segunda, a equipe reuniu 20 integrantes – dois professores, dois pós-graduandos e 16 estudantes do 2º ao 6º ano, selecionados entre mais de 40 concorrentes. De acordo com os dados coletados pela equipe, grande parte das crianças observadas possui cáries ainda não tratadas e/ou dentes perdidos ou obturados.

A pesquisa constatou que os problemas com os dentes aumentam conforme a idade da criança avança. No grupo de crianças de sete anos, por exemplo, somente 10% possuem cáries, obturações ou dentes permanentes perdidos. Já entre as crianças de 12 anos, o percentual sobe para 65% dos observados. “É um nível muito alto. Nós continuamos indo à Cananéia por conta das características das comunidades, que são muito carentes. Eles precisam de uma intervenção nossa”, diz o professor.

História do projeto
O Projeto Cananéia foi idealizado em 1992 pelo professor Antônio Alberto de Cara, que coordenou as ações até 2006. Em 1993, quando foram feitos os primeiros atendimentos, o município não possuía cirurgiões dentistas, e o índice de dentes perdidos, com cáries, obturações era de 6,75 dentes para a população participante do projeto. Após oito anos do projeto, o índice caiu para 1,75, inferior à meta estabelecida pela Organização Mundial de Saúde (OMS), e, em 2007, Cananéia possuía três unidades odontológicas e dois cirurgiões.

De acordo com Frias, até 2005 o projeto tinha uma dimensão predominantemente assistencialista, com pouca ênfase na compreensão da dinâmica social local. A proposta sofreu uma guinada em junho de 2007, quando professores, cirurgiões e estudantes se reuniram para reorganizar a atividade a partir de uma perspectiva mais crítica e educativa.

Em 2008, o projeto passou a receber recursos do Fundo de Cultura e Extensão da USP, o que, segundo o coordenador, representou um marco para a atividade. “A partir daí começou um processo de profissionalização das ações. Ganhamos autonomia, recursos e instrumental para dar continuidade ao projeto”, afirma. A edição desse ano custou de R$ 17,9 mil, dos quais R$ 10 mil foram bancados pelo fundo, R$ 5.800 pela Prefeitura de Cananéia e o restante com recursos da própria Faculdade de Odontologia.

Na avaliação do docente, a extensão é fundamental para tirar o estudante da “bolha da universidade”. “A gente leva o aluno para um contexto que ele não tem a menor noção que existe. Na universidade tudo funciona, as coisas dão certo, é um meio estéril. Quando vai a campo, o aluno entra em contato com lugares onde não há nem luz elétrica, em que a criança tem a boca toda estourada. Isso é o Brasil”, diz.

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