São Paulo (AUN - USP) - Uma planta com agentes capazes de combater úlcera, inflamações e tumores melhor que os remédios convencionais. A guaçatonga vem sendo estudada pelo Professor Jayme Aboin Certié, do Instituto de Ciências Biomédicas da USP. Ele e sua equipe conseguiram isolar moléculas ativas que apresentam vantagens sobre as convencionalmente usadas para alguns tipos de doenças.
A guaçatonga já é usada como chá em alguns lugares do Brasil. Essa planta típica do país é encontrada na Mata Atlântica e no Cerrado, e, após testes preliminares, o professor Certié concluiu que ela possuía compostos que interessariam pelo seu poder curativo e pelos menores efeitos colaterais.
Um grande problema dos remédios convencionalmente usados são seus efeitos colaterais. Dessa forma, o uso de compostos que diminuam ou acabem com esses efeitos torna-se desejável para a indústria farmacêutica e para os consumidores.
Os remédios convencionais usados para o tratamento de úlceras, por exemplo, dividem-se em dois tipos: um grupo, em que está incluído o sal de fruta, como efeito colateral eleva o ph do suco gástrico, o que torna difícil a digestão de proteínas e facilita a entrada de bactérias oportunistas no estômago. O outro tipo de medicamento são drogas que protegem as células do estômago e não diminuem o ph,. as chamadas citoprotetoras. Elas, porém, são abortivas; um exemplo é o medicamento Citotec.
A guaçatonga mostrou não alterar o ph do suco gástrico e agir em todos os níveis de ulceração (os remédios citoprotetores convencionais, por exemplo, só funcionam para úlceras profundas). É citoprotetora sem provocar contração uterina (não abortiva, portanto), além de apresentar velocidade de cicatrização três vezes maior que as drogas convencionais. A planta também possui capacidade antiinflamatória, com a vantagem de não irritar a mucosa gástrica, o que ocorre nos medicamentos tradicionais. O uso de compostos com essa função é particularmente interessante, segundo o professor Certié, porque os antiinflamatórios formam um grupo de remédios dos mais usados no mundo.
Atualmente compostos da guaçatonga estão sendo patenteados no Brasil. O professor Certié espera algum laboratório farmacêutico que se interesse pelo medicamento para comercializá-lo dentro e fora do país, gerando inclusive divisas em um campo em que o Brasil tradicionalmente é dependente de drogas estrangeiras.
Além da guaçatonga, o laboratório de Farmacologia e Toxicologia de Produtos Naturais do ICB estuda outras plantas, como a guiné, que tem efeitos como analgésico para dores mais profundas, como as tumorais. Os analgésicos convencionais para esses casos, como a morfina, causam dependência e exigem doses cada vez maiores para fazerem efeito. Compostos da guiné estão sendo estudados para evitar esses efeitos colaterais.
“O trabalho para desenvolver novas drogas é multidisciplinar”, ressalta o professor Certié, começando com o trabalho de campo para recolher plantas, passando pelas análises farmacológicas e químicas, além de outros processos, para que se possa chegar ao produto final desse ciclo, que é o medicamento.