São Paulo (AUN - USP) - Pacientes que sofrem comprometimento da comunicação, conhecida como afasia, em decorrência de um acidente vascular encefálico (AVE) contam agora com um método eficiente de prognóstico. Isso significa maiores chances de reabilitação, não somente da linguagem. Chamado Bedside Evaluation Screening Test (Best 2), o método foi assunto do mestrado da fonoaudióloga Flavia Garcia Marchi, defendido em março na Universidade de São Paulo.
Recentes pesquisas apontam o AVE como uma das principais causas de mortalidade no Brasil. Trata-se de uma lesão cerebral causada por bloqueio [isquemia] ou ruptura [hemorragia] vascular. Pessoas do sexo masculino, acima dos 65 anos, e com histórico de fumo, hipertensão, diabetes e doenças de coração são as principais vítimas. Uma das consequências mais comuns é a afasia. Quase 40% das pessoas que são vítimas de AVE sofrem comprometimento da comunicação. O que mais preocupa são as evidências de maior mortalidade em indivíduos que apresentam afasia na fase aguda. Atualmente, após o diagnóstico de AVE, a maioria dos fonoaudiólogos avalia a capacidade de comunicação dos pacientes de maneira informal, nada padronizada.
Segundo Flavia, o Best 2 supre a carência de uma metodologia mais precisa para a avaliação da linguagem e comunicação de afásicos. E pode ser aplicado assim que o paciente se encontra no leito de um hospital. O teste avalia a competência da linguagem a partir de três modalidades: compreensão oral, discurso e leitura. As atividades incluem nomear, descrever e apontar objetos, repetir sentenças e ler pequenos textos. O processo é simples, dura cerca de 20 minutos e é capaz de identificar da ausência de prejuízo de linguagem ao comprometimento grave. A pesquisa revelou que o Best 2 é um bom instrumento de rastreio principalmente para as populações menos escolarizadas. Além disso, se mostrou eficiente também para o prognóstico de analfabetos.
O método foi criado em 1998 nos Estados Unidos, e teve que ser adaptado para o português do Brasil. A simples tradução não foi suficiente. Houve a necessidade de levar em consideração as circunstâncias sociais e culturais da população local atendida, o que resultou na chamada adaptação transcultural.
Cabe ressaltar que somente a aplicação do teste não evita sequelas e mortes. Porém, sua utilização é a base para a reabilitação, pois facilita a adoção de um programa terapêutico específico para cada caso. Recentemente o Best 2 passou a ser aplicado no Instituto de Reabilitação Lucy Montoro, em São Paulo, sob a coordenação de Flávia. A pesquisadora acredita que isso reflete o quanto é possível e necessário agregar pesquisa a favor da saúde pública.