São Paulo (AUN - USP) - Em evento apresentado na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, a pesquisadora do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) Maria Filomena de Andrade Rodrigues, apresentou um modelo produzido a partir da cana-de-açúcar por meio de bactérias que ingerem o açúcar do vegetal e transformam o excedente da atividade digestiva em poliésteres que geram o plástico sustentável.
A palestra Plásticos biodegradáveis a partir de fontes renováveis aconteceu como forma de complementação às aulas do curso de Design. “A nossa tentativa é a de procurar um produto com características similares à do plástico, mas que não agridam o meio ambiente”, explica Maria Filomena.
O que a palestrante destaca no trabalho é que o plástico feito por meio do açúcar da cana é parte de um sistema cíclico e autossustentável. Num infográfico, a pesquisadora mostra que a cana-de-açúcar seria o produto para a confecção do plástico através da bactéria; mais tarde, o plástico se tornaria lixo, que degradado emitiria certa quantidade de gás carbônico na atmosfera. Esse gás, por sua vez, seria capturado na realização da fotossíntese de vegetais – entre eles, a cana, que novamente gerará o plástico biodegradável.
Sobre o fato de a pesquisa ser palpável ou não, a pesquisadora é direta: “O Brasil é o país que mais tem fontes renováveis, especialmente em cana-de-açúcar. Devíamos trabalhar mais essa energia. Segundo a palestrante, há muitos pontos a considerar para a elaboração desse plástico, uma vez que qualquer diferencial agregado ao produto implica aumento de preço. “A confecção do plástico convencional envolve um know-how que agrega petróleo, o que já conhecemos e sabemos trabalhar bem”.
Para o desenvolvimento do plástico biodegradável vindo da cana, porém, é necessária uma mudança estrutural: “Precisamos fazer modificações genéticas e químicas na matéria-prima para melhorar o seu custo e tornar viável a sua produção”, diz a pesquisadora. Outro desafio é a reciclagem do plástico sem que suas propriedades sejam perdidas, evitando inutilizá-lo.
Degradação na natureza
O tempo de biodegradação do material varia, mas a média de tempo gira em torno de quatro meses. “Fizemos o teste e enterramos uma régua feita com o plástico biodegradável em um vaso. Dali cerca de 120 dias, foi possível constatar que parte da régua já havia se degradado de forma natural.”
Maria Filomena conta que o trabalho é um estudo que está sendo trabalhado há cerca de 20 anos. ”Éramos taxados de loucos ao pensar em sustentabilidade”, conta. Hoje, já a produção sustentável já é pensada com outras matérias-primas renováveis, como sacarose, glicose, frutose, lactose, glicerol, ácidos graxos e óleos vegetais.