São Paulo (AUN - USP) - As últimas pesquisas do Sistema de Informação de Mortalidade (SIM) mostram que o Brasil teve um aumento no número de mortes causadas por doenças cancerígenas. “A previsão é de que elas se tornem a causa de morte número um na saúde”, afirma Paulo Marcelo Gehm Hoff, diretor clínico do Instituto do Câncer de São Paulo (ICESP). Enquanto as mortes por doenças infecciosas e parasitárias vêm diminuindo, graças às campanhas de vacinação e de conscientização; as causadas por problemas do aparelho cardiorrespiratório e por neoplasias vêm aumentando. A diferença é que a mortalidade causada por cânceres está crescendo em um ritmo mais acelerado que as outras, por causa do envelhecimento da população.
Segundo dados do Early Breast Cancer Trialists Collaborative Group (EBCTCG), a mortalidade de câncer nos países desenvolvidos, como os Estados Unidos e o Reino Unido, vem caindo. Isto não acontece no Brasil. O país ainda não está preparado para lidar com o problema. “O SUS (Sistema Único de Sáude) é responsável por 70% do repasse financeiro na saúde, porém, entre suas prioridades apenas o câncer de mama e o de colo do útero são mencionadas”, critica Hoff.
Em palestra de abertura do XXIX Congresso Médico Universitário, organizado pelo Departamento Científico da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), Hoff criticou a realidade da saúde no país. Os gastos ultrapassam $1,6 trilhões – 16% do PIB. A cada ano, o tratamento médico tem um aumento muito maior que o custo de vida, devido às novas tecnologias. Enquanto os Governos Federal, Estaduais e Municipais gastam 94,4 bilhões de dólares para atender 80% da população; a saúde particular investe 98,4 bilhões nos 20% restantes. “São menos de 700 dólares por ano gasto por cidadão. É um valor considerado muito baixo mundialmente”, afirma Hoff.
Outra crítica ao SUS é a forma de repasse de verba para os tratamentos. Enquanto uma seguradora chega a gastar R$ 4.500 por sessão, o SUS oferece R$ 400 por paciente por mês. Por causa disso, a medicação que custa mais que o repasse dado pelo SUS acaba não sendo usada no tratamento do paciente. “É a maior causa de jurisdição”, explica Hoff. Em São Paulo, a Secretaria da Saúde criou o Programa de Dispensação de Medicamentos Excepcionais (MEDEX) para repasse de medicamentos mais caros. Em 2008, por determinação judicial, o SUS gastou R$ 350 milhões com 33 mil pacientes; já o MEDEX investiu R$ 1.125 milhões com 450 mil pessoas.
O adiamento da inclusão da Emenda 29 também foi outra crítica feita pelo médico. Ela garantiria que o Governo Federal aplicasse na saúde o gasto do ano anterior, mais reajuste dos juros; já os governos estaduais teriam que investir 12% do seu orçamento. “O SUS é uma vitória para o povo brasileiro. Poucos países têm um sistema tão abrangente em saúde pública. Você chega ao hospital e não é obrigado a apresentar documentos”, ressalva Hoff. “O que temos que fazer é preparar o sistema para a epidemia que vai atingir os postos de saúde nas próximas décadas”, alerta o oncologista.