São Paulo (AUN - USP) - Escolher amigos é uma situação que pode colocar o indivíduo em um grande conflito: de um lado, há a vantagem de ter um bom companheiro, do outro pode haver a aproximação de um forte concorrente na competição social e na seleção sexual. A partir dessa ideia, Cesar Ornelas elaborou sua dissertação de Mestrado no Instituto de Psicologia da USP.

No estudo, intitulado “Uma análise da amizade sob perspectiva evolucionista: Influência dos perfis cognitivos e das características pessoais na preferência por potenciais amigos”, foram observados 40 indivíduos, 20 do sexo masculino e 20 do sexo feminino, entre 19 e 52 anos. Os participantes analisaram fotos de homens e mulheres, indicando principalmente o quanto os consideravam as pessoas dessas fotos belas, inteligentes, simpáticas e leais.

Mulheres – Vênus?
Uma das conclusões é que as mulheres possuem maior empatia, o sentimento que permite identificar emoções e pensamentos em outra pessoa, objetivando compreender e prever o comportamento alheio. Assim, as mulheres sentiriam maior receio de julgar as pessoas negativamente, sendo mais bondosas e cautelosas no julgamento, mesmo tratando-se de fotos de desconhecidos.

Para as mulheres, as modelos classificadas como mais “amigas” eram as de beleza mediana. O que se percebe é que para as mulheres pesa menos a competição na escolha de uma amizade, com o seguinte raciocínio: “se ele tiver pouco não tem o que me oferecer, se tiver muito pode me explorar”.

Isso se explica porque as mulheres não costumam formar grandes grupos de amizades como os homens, por isso o potencial de um único indivíduo tem um peso mais relevante do que a competitividade e a força do grupo, assim elas preferiram as amizades com maiores qualidades.

Homens – Marte?
Os homens evitam as amizades com outros homens considerados mais bonitos. A percepção dos riscos competição é maior na ala masculina, rejeitando relações em que o outro se mostrava um forte concorrente.

No caso das relações masculinas, como as características individuais são somadas ao grupo de amigos, pessoas “fracas” em qualidades podem ser compensadas pelo grande número de elementos da turma.

Sempre bem-vindo
Já para as características como altruísmo e honestidade, as pessoas buscarão amigos com os maiores índices possíveis dessas qualidades, independentemente de como elas mesmas se comportam. O estudo mostrou ainda que quando a amizade passa da fase inicial da seleção e se torna uma relação de amizade mais íntima, homens passam a aceitar mais os amigos considerados atraentes, isso pode ser explicado pela estabilidade da amizade, que acarretaria na diminuição dos riscos de competição e traição entre os amigos. “Em uma amizade antiga, já estabilizada, as pessoas tendem a idealizar a relação e consequentemente valorizar mais as vantagens da interação do que as impressões iniciais”, explica Cesar.

O pesquisador justifica sua base de estudos, mais rara na área de Humanas: “no Brasil, a abordagem evolucionista ainda era pouco explorada nos estudos com comportamento humano, o que vem mudando bastante nos últimos anos. A ótica evolucionista é uma análise fundamental, pois herança evolutiva de uma espécie é mais um ingrediente que, somado a outros fatores da vida do animal,resultará em um comportamento especifico”, finaliza o psicólogo.