São Paulo (AUN - USP) - A poluição atmosférica da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) afeta aproximadamente 17 milhões de habitantes. Isto causa graves problemas de saúde, principalmente no inverno. Pensando nisso, os pesquisadores do Departamento de Ciências Atmosféricas do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP (IAG) desenvolveram um projeto com o objetivo de relacionar as condições meteorológicas no inverno com a maior concentração de poluentes, principalmente ozônio e material particulado.
O material particulado, mais conhecido como poeira, é composto, na RMSP, por metais, como sulfatos e nitratos, e carbono, tanto o orgânico (hidrocarbonetos) quanto o elementar (cinzas). Além disso, o inverno foi o período escolhido porque é nesta estação que os poluentes encontram-se mais concentrados.
Maria de Fátima Andrade, uma das pesquisadoras do projeto, diz que o resultado principal é ter um modelo de descrição da formação e transporte de poluentes na RMSP. O estudo é necessário para adaptar os modelos já existentes e assim prever como variará a concentração dos poluentes com as mudanças das condições do tempo.
A pesquisa, iniciada no fim de 98, foi dividida em quatro sub-projetos. O primeiro visava entender a formação de sistemas meteorológicos que bloqueiam os poluentes e seu impacto na concentração destes no inverno. O segundo seria a simulação do transporte de poluentes da cidade de São Paulo para outras regiões e também dos poluentes que vêm para São Paulo. Nesta parte, foram realizadas medidas experimentais, em parceria do IAG com o IQ (Instituto de Química), o IPEN (Institutos de Pesquisas Energéticas e Nucleares) e a Cetesb. O terceiro era analisar a interação do material particulado com a radiação em função da composição deste material. Sabe-se que as partículas absorvem e espalham a radiação, alterando as características da atmosfera. A análise é para saber como e em que proporções ocorrem as mudanças. Esta fase foi realizada em parceria com o IF (Instituto de Física). O quarto era a análise da remoção de poluentes pela precipitação, ou seja, pelas águas da chuva.
A coleta de dados foi feita em campanhas experimentais no inverno e o estudo no resto do ano. Em 99 e 2000, foram medidos os níveis de poluição e feitas medições meteorológicas em três pontos da região central e quatro fora dela. Em 2001, as medições foram feitas dentro de túneis, para se traçar um perfil do que os veículos emitem, já que neste lugar não há radiação solar e, assim, os processos de reação são mais lentos. Já em 2002, elas foram feitas no Pico do Jaraguá, em conjunto com a Cetesb. Neste ponto pôde-se analisar a direção dos ventos e assim descobrir quais poluentes estão saindo e quais estão chegando na RMSP.
Neste mês, será entregue o último relatório para a Fapesp, financiadora do projeto. Um dos principais resultados do projeto foi a grande integração entre os grupos de pesquisas dos Institutos da USP e destes com a Cetesb. Pôde-se perceber que os poluentes de São Paulo atingem uma área de 400 Km², mas não foi possível detectar a influência de outras regiões na poluição da cidade, porque nesta as concentrações de poluentes são elevadas. As chuvas também são muito importantes para a remoção dos poluentes da atmosfera. E finalmente, está sendo possível calibrar os modelos com o objetivo de fazer previsões mais exatas.