São Paulo (AUN - USP) - A 1a Semana do Meio Ambiente da USP, realizada em conjunto com a Associação Xavante Warã, aconteceu de 02 a 06 de junho, das 10 às 16 horas. A FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo) abrigou o início das atividades. No primeiro dia os índios realizaram uma dança ritualística conhecida como A’ uwé, na qual formam um círculo e entoam palavras enquanto giram. “O povo Xavante preza muito as formas circulares. O círculo simboliza a coletividade; assim as danças são realizadas em roda, as casas são redondas e a própria aldeia é arredondada”, afirmou Hiparidi D. Top’tiro, ancião da tribo e coordenador da Associação.
Paralelamente acontecia a Semana do Meio Ambiente do IB (Instituto de Biociências). “Iniciamos em conjunto com a semana da USP, mas depois de quarta-feira, 4 de junho, os eventos foram separados”, disse Simone Bazarini, aluna do IB e integrante da organização dos dois eventos. Diversas oficinas e palestras foram conduzidas pelos alunos do Instituto, entre elas uma oficina de mosaico e outra de reciclagem de sucata. “Pretendíamos fazer, também, uma exposição de vídeos. Mas infelizmente o equipamento parou de funcionar”, reclamou Simone.
Nascido em Sangradouro (MT), onde está localizada a comunidade da aldeia Abelhinha (Idzô´uhu, em Xavante), Hiparidi Top’tiro vive em São Paulo desde 1992. A região onde se localiza sua aldeia foi gradativamente desmatada. O arrendamento ilegal de terras para fazendeiros fez com que a Associação entrasse em contato com o Laboratório de Geografia Agrária da USP, para que fosse preparado um laudo sobre o impacto ambiental do desmatamento, que consumiu uma área de 1.400 hectares no interior da reserva indígena.
A mais interessante palestra aconteceu no IB. Na terça-feira a discussão foi sobre “Uso da Terra, Demarcação de Território Indígena e Preservação Ambiental”, e envolveu representantes do ISA (Instituto Sócio-Ambiental), do Laboratório de Geografia Agrária da USP, da Funai e Lucas Ruri’õ, índio Xavante, que expôs o diagnóstico etno-ambiental da região de Sangradouro. Everson Carlos da Silva, conhecido como Índio Rústico entre seus colegas da EEFE (Escola de Educação Física e Esporte), desabafa: “Nós, Xavantes, cansamos de antropólogos que se aproveitam de visitas à nossa aldeia para ganhar fama no meio acadêmico. Queremos solucionar a demarcação de terras, por isso requisitamos que as palestras fossem feitas em várias unidades da USP, em especial o IB”. Bacharel em Esporte, Everson foi um dos mentores de toda a visita dos indígenas à universidade e da corrida de toras de buriti, o ponto de maior empolgação nessa semana.
“Gostaria que todas as unidades tivessem seus times de revezamento na corrida, gostaria que a Uiwede, como é conhecida entre meu povo, se popularizasse entre os alunos como o Rugby se popularizou”, disse Everson, o Índio Rústico.
Não foi para menos. Na manhã de sexta-feira, o caminho entre o portão 1 da USP e a Casa de Cultura Japonesa foi fechado. A massa de alunos, funcionários, professores, curiosos e índios acotovelava-se antes do início da corrida, e as toras foram trazidas. “A corrida de tora é um esporte. São dois times que correm, os Hotorã (que tem o corpo pintado de negro e um retângulo vermelho que vai do início do tórax até a altura do umbigo) e os Tiröwa (com o tronco pintado de vermelho e uma marca de meia-lua negra no peito), cada um com uma tora de árvore de buriti nas costas, por 15 km. Cada membro do time corre com a tora quanto tempo agüentar e aí passa para o outro. A corrida é um momento de alegria e divertimento de todos na tribo”, disse o Índio Rústico. Não foi para menos. Foram realizadas três baterias de corrida, a primeira e a terceira com os homens Xavantes, e a segunda entre alunas da universidade e mulheres indígenas. Emissoras de televisão e rádio cobriam o evento, em peso, que foi noticiado naquele mesmo dia.