São Paulo (AUN - USP) - Um novo píer da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) iniciará suas operações em novembro em Ponta da Madeira, na ilha de São Luis, Maranhão. Ele terá capacidade de exportar de 25 a 30 milhões de toneladas de minério de ferro por ano. Mas no início de junho as manobras de atracação e desatracação desse porto foram analisadas e determinadas em ensaios de laboratório na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Epusp).
Para tanto foi ampliado um modelo físico no Laboratório de Hidráulica da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Lhepusp) que hoje ocupa 1500m². Ele mede todos os esforços dos navios no Porto de Ponta da Madeira e a grande influência da maré na região, demonstrando de forma convincente inovações e melhoramentos para o porto e sua logística.
Um modelo físico consiste em reproduzir, em escala, as semelhanças geométrica, a velocidade e a força de uma grande instalação. Inicialmente, o modelo do porto de Ponta da Madeira ocupava 800m². Hoje, a área do modelo foi praticamente duplicada e detalhes do porto e do navio são reproduzidos para que as simulações fiquem muito próximas do real. Isso permite que os ensaios não se limitem à medição de esforços e a gama de inovações seja ampliada.
Entre os inúmeros cuidados nesses ensaios pode-se citar a avaliação feita por profissionais altamente especializados em manobrar os navios no porto (práticos), o capitão responsável pelo porto e um consultor da área de navegação. Os ensaios são todos gravados e os simuladores do navio possuem diversas câmeras que reproduzem a visão do prático dentro de um navio na hora das manobras. Daí a importância da reprodução fiel de detalhes dos navios e do porto, pontos de referência para os práticos nas simulações.
Os ensaios são resultado de uma parceria que vigora desde 1977, firmada entre a Epusp, o Centro Tecnológico de Hidráulica e Recursos Hídricos (CTH/Daee), a Fundação Centro Tecnológico de Hidráulica (FCTH) e a CVRD, que já investiu US$ 5 milhões no projeto.
O professor Paolo Alfredini é o responsável pelos estudos desde 1980 e coordenador desde 1995. Ele afirma que ensaios anteriores provavam que era possível diminuir o espaço de manobras dos navios. Com isso, foi possível aumentar a capacidade do porto. Lembra que em um acidente com um navio carregado, ambientalistas exigiram da Vale providências que evitassem um desastre ambiental. O Lhepusp foi acionado e, graças ao seu banco de dados e por já ter o modelo físico do complexo montado, conseguiu provar que o tal desastre não ocorreria e que, por força da maré, os minérios do acidente se estabilizariam em um local fora de riscos. Isso evitou que as atividades do complexo fossem alteradas e meses depois a previsão dos estudos se confirmou, não havendo prejuízo algum ao meio ambiente.
O potencial da Vale
O complexo portuário da Vale é o segundo maior em movimentação de carga do país, caminhando rapidamente para ser o primeiro. O porto de Ponta da Madeira recebe hoje os maiores graneleiros do mundo e movimenta aproximadamente 55 milhões de toneladas por ano de minério de ferro, ferro gusa, manganês e grãos de soja. Em 2004 o concentrado de cobre deverá incluir-se nessa lista.
Um provável acordo com a China prevê a importação de carvão e a construção de sete usinas siderúrgicas, sete coquerias e duas usinas termoelétricas para a produção de 20 milhões de toneladas de produtos siderúrgicos ao final de sua implantação.
O que atrai os chineses, justifica tanto investimento no complexo portuário e faz da CVRD um imenso potencial exportador do país é o fato de Carajás ser a maior “província mineral” do mundo. Hoje seu principal produto exportado é o minério de Ferro (29% da produção mundial), a cerca de U$ 20,00 a tonelada. Mas produtos como o Cobre e o lingote de Alumínio – U$ 1.800,00 e U$ 3.500,00 a tonelada, respectivamente – agregariam valor aos produtos exportados. Além disso, a logística do complexo, próximo dos EUA, da Europa e do Japão via canal do Panamá, faz o custo do transporte ser mais baixo e aumenta a competitividade e a lucratividade da Vale.
A parceria da Vale com o Lhepusp é uma das maiores parcerias firmadas no Brasil entre uma empresa privada e uma instituição de ensino e, pelos projetos de ampliação do complexo e devido à qualidade do trabalho desenvolvido até então – já foram defendidas duas dissertações de mestrado, uma de doutorado, uma de livre-docência e três outras dissertações estão em andamento – vai perdurar por muito tempo.