ISSN 2359-5191

18/11/2010 - Ano: 43 - Edição Nº: 102 - Saúde - Faculdade de Saúde Pública
Estudo mostra porque Brasil lidera no ranking das cesárias

São Paulo (AUN - USP) - Há uma discussão permanente sobre qual via de parto é mais benéfica. Apesar de estudos mostrarem que as mulheres têm maior desejo por parto normal do que por cesariana, o Brasil é recordista em partos cirúrgicos. Nos hospitais particulares, o índice chega a 90 %. A Organização Mundial de Saúde (OMS), no entanto, recomenda que a taxa não passe de 15 %, sendo apenas indicada em casos que o parto normal colocaria mãe e bebê em risco.

Autora da dissertação de Mestrado “ O bem estar no parto sob o ponto de vista das pacientes e profissionais na assistência obstétrica”, defendida na Faculdade de Saúde Pública (FSP), a psicóloga Helena da Costa Lino procurou analisar o que profissionais de saúde do setor privado e usuárias desses serviços consideram como um parto bom e um parto emocionalmente traumático.

Apesar das evidências mostrarem que a cesariana oferece mais riscos à saúde da mulher e do bebê, a psicóloga observa que há uma supervalorização dos benefícios da cesariana e uma subestimação dos riscos apresentado pelos médicos. Frases como “sua bolsa está velha”, o bebê está grande demais”, “ eu não arriscaria esperar mais do que 40 semanas”, são muito comuns entre eles para incentivar a cesariana. Há também o fator financeiro embutido. Além de ser mais vantajoso financeiramente, o agendamento é mais fácil e a duração do parto é menor.

O que se pode observar, portanto, é que é crença que no setor privado a paciente faz a escolha da via de parto que terá. O saber médico raramente é questionado e muitas mulheres preferem que os médicos tomem as decisões , porque isso as exime de qualquer responsabilidade. Em sua dissertação, no entanto, Helena observou que algumas mulheres ficaram incomodadas com a postura de seus médicos e optaram por mudar de profissional mesmo com a gestação avançada, para que elas pudessem ter direito aos seus desejos. Profissionais apontaram que o fato da mulher desejar muito o parto normal e acabar realizando a cesária pode ser traumático a elas.

A dificuldade em lidar com a dor parece ser maior por parte dos profissionais que realizam a cesárea do que das próprias pacientes. Enquanto pacientes que realizaram o parto sem intervenções, disseram que as sensações corporais contribuíram muito para grande satisfação, como “sentir a contração” e o “bebê passando” ,os profissionais se mostraram a favor da anestesia, pois a caracterizam como a ausência de dor no momento do parto. A valorização do silêncio também foi observada entre os profissionais que realizam as cesárias. Para eles, a paciente tem que ser colaborativa. Colaborativa neste caso significa ser silenciosa ( não gritar, não fazer escândalo e não dar “show”) .

É fato que no Brasil há uma cultura de cesárea, que muitas vezes é encarada até mesmo como status, e sair desse padrão, indo contra professores, superiores e colegas de profissão não é uma tarefa fácil. Para diminuir as cesárias no país, Helena acredita que a informação é peça chave, e que é de extrema importância que as mulheres saibam dos riscos que enfrentam ao optar por uma cesariana, tenham conhecimento de como é um parto normal, da utilização mais indicada de cada intervenção, e do pós operatório, só assim poderão tomar uma decisão consciente.

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