São Paulo (AUN - USP) - A USP (Universidade de São Paulo) em breve começará a cultivar células-tronco a partir de tecidos dentais diversos. Isso porque até o meio do ano que vem deverá ser inaugurado um centro de pesquisas na Faculdade de Odontologia (Fousp), segundo informou Andrea Mantesso coordenadora do projeto.
“O projeto já foi aprovado pela Coordenadoria de Espaços Físicos (Coesf) e está na mesa do reitor para que ele aprove a liberação das verbas. Após a liberação, serão mais três semanas para fazer a licitação. A obra em si vai levar cerca de três meses”, disse Mantesso, que também pesquisa e leciona pela universidade inglesa King's College, parceira da USP no projeto.
De acordo com a professora, o custo da construção gira em torno de R$ 200 mil. A Fousp já possui parte dos equipamentos que serão utilizados na pesquisa e no cultivo das células-tronco. Outros serão adquiridos junto a entidades financiadoras de pesquisa.
Atualmente, as células-tronco são coletadas em embriões e cordões umbilicais de recém-nascidos. Outro método é retirá-las da medula óssea de pacientes que pretendem usá-las em tratamentos. É possível também obter células-tronco no sangue, fígado, placenta e líquido amniótico.
Nos tecidos dentais, as células-tronco são retiradas do ligamento periodontal (que conecta o dente aos ossos da boca), na papila apical (tecido que compõem a raiz do dente) e na polpa dos dentes permanentes e de leite. A separação das células é feita por meio da aplicação de enzimas. “Como as células-tronco estão presentes na polpa dos 20 dentes de leite, as possibilidades de remoção e cultivo são muito grandes”, afirma Mantesso.
Outra vantagem é que a remoção no tecido dental pode ser feita a um custo menor e não há necessidade de submeter os doadores a cirurgias.
Pesquisas
A descoberta da existência de células-tronco em tecidos dentais ocorreu em 2000, com a equipe do pesquisador australiano Stan Gronthos. Em 2003, o mesmo grupo identificou o material também em dentes de leite.
As células-tronco removidas do embrião humano são totipotentes ou pluripotentes, isto é, podem ser utilizadas para produzir qualquer tipo de células embrionárias e extra embrionárias – exceto as células da placenta e anexos, no caso das células pluripotentes.
Segundo Mantesso, desde a descoberta da equipe de Gronthos as pesquisas evoluíram muito, mas ainda não é possível definir com exatidão a aplicabilidade das células.
“O que sabemos é que as células do ligamento periodontal são ricas em colágeno e podem ser usadas em tecidos com essas características. Já as da polpa dos dentes são mais propícias para tecidos mineralizados, como os ossos”, diz a pesquisadora.