ISSN 2359-5191

23/11/2010 - Ano: 43 - Edição Nº: 105 - Ciência e Tecnologia - Instituto de Ciências Biomédicas
Laboratório da USP procura curas alternativas para a leishmaniose

São Paulo (AUN - USP) - Métodos de cura menos violentos e mais efetivos para a leishmaniose já estão sendo testados em seres humanos(testes pilotos). Os testes são encabeçados pela UFBA (Universidade Federal da Bahia) e foram possíveis devido às pesquisas desenvolvidas no laboratório dirigido pela professora Sílvia Uliana, do Departamento de Parasitologia do Instituto de Ciências Biomédicas da USP.

A leishmaniose é uma doença causada por parasita e transmitida através de insetos. Comum em regiões tropicais e sub-tropicais, tem atingido cada vez mais brasileiros. Nos últimos 30 anos, a enfermidade até então restrita às regiões norte e nordeste, migrou para o sul e sudeste. Em São Paulo, os casos se concentram no noroeste do estado. A leishmaniose visceral leva a morte de 100% dos infectados não tratados. Mesmo com tratamento, 10% dos pacientes morrem em decorrência da doença. A leishmaniose cutânea, apesar de menos mortífera, pode levar a deformidades graves.

“Os tratamentos existentes hoje são bastante inadequados”, comenta Silvia Uliana. Segundo ela, os remédios são caros e possuem efeitos colaterais bastante acentuados, como problemas no pâncreas, rim e coração. Além disso, só pode ser administrado por via parenteral (injeção) e apresenta resistência em alguns lugares do mundo. Por essa razão, sua equipe tem pesquisado outros produtos. Dessa forma, descobriu-se que o tamoxifeno, substância já utilizada no tratamento do câncer de mama, apresenta resultados satisfatórios na cura da leishmaniose.

O produto foi aplicado em animais com leishmaniose por 15 dias. Os animais responderam ao tratamento, com cura das lesões. “Ainda não sabemos qual o fator de ação específico do tamoxifeno no parasita”, conta Uliana. Os efeitos colaterais dessa substância no tratamento de câncer é bastante baixo. Como medicamento profilático, as pacientes costumam tomar o remédio por cinco anos. O tratamento da leishmaniose não duraria mais que 15 dias, o que reduziria as possibilidades de toxicidade.

“É um remédio genérico, já comercializado e barato. Não é necessário quebrar patentes”, diz a pesquisadora. A descoberta ocorreu através de algumas pistas que estudos anteriores já haviam fornecido. O tamoxifeno é responsável por tornar o ambiente mais básico, elevando o PH. O parasita da leishmaniose vive melhor em ambiente mais ácido.

Já foram realizados diversos testes em vitro e em animais, que tem apresentado resultados satisfatórios. Apesar de estar presente em todas as classes sociais, a maioria dos casos dessa doença está relacionada a bolsões de pobreza e zonas de conflito. O Ministério da Saúde é responsável pela distribuição dos medicamentos existentes hoje.

Imunodeprimidos
Pacientes infectados pelo vírus HIV e com problemas no sistema imunológico em geral, tem muita dificuldade para curar a leishmaniose. Uliana explica que os remédios que existem hoje não são capazes de exterminar todos os parasitas do corpo do paciente. Depois de interrompido o tratamento, a doença retorna.

Essa situação é problemática por que os medicamentos são muito tóxicos e esses pacientes não podem parar de tomá-los, desencadeando outros problemas de saúde. Teoricamente, o tamoxifeno curaria também os imunodeprimidos. Os testes serão feitos primeiramente com pessoas saudáveis. Mas os próximos passos levarão em conta pessoas desse perfil.

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