ISSN 2359-5191

25/11/2010 - Ano: 43 - Edição Nº: 107 - Educação - Escola de Educação Física e Esporte
Projetos pedagógicos em Santos não acreditam no potencial educacional do esporte

São Paulo (AUN - USP) - As Práticas Esportivas Escolares (PEEs) – atividades esportivas desenvolvidas fora do horário de aula (contra-turno), nas escolas de Ensino Fundamental (E.F.) do município de Santos-SP – atendem a poucos e estão aparentemente distantes dos projetos pedagógicos, verificou Carla Luguetti, em sua pesquisa realizada pela Escola de Educação Física e Esporte da USP. Assim, apesar do potencial que essas atividades têm para a formação da cidadania dos alunos e para a democratização da prática esportiva, em Santos isso não acontece.

Por meio de um questionário aplicado a professores, diretores e coordenadores de escolas do Ensino Fundamental da rede privada e pública de ensino, a pesquisa investigou as PEEs, mas não a Educação Física Escolar, uma vez que esta é obrigatória no Ensino Fundamental. Hoje, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) incentiva que as escolas ofereçam programas que atendam as crianças no contra-turno para aumentar a permanência na escola. A pesquisa revelou que 85% das escolas de Santos oferecem as PEEs. Segundo Carla, esse número é bastante significativo, pois os programas não são obrigatórios. No entanto, poucas são as crianças atendidas, sendo a maioria estudantes acima do quinto ano. Para a pesquisadora, “o esporte oferecido no contra-turno das escolas não é democrático. Com menos de 10% de crianças e jovens atendidos, percebe-se que a universalização e o direito ao esporte, conforme preconizado na Constituição brasileira, ainda não ocorre na escola.”.

A pesquisa aponta para uma descrença dos gestores quanto à possibilidade educacional das PEEs na rede de ensino do município e na maioria das escolas privadas. Diretores e coordenadores veem essas atividades como um momento de tirar a criança da rua. “É como se o esporte utilizasse o espaço físico, mas desconectado dos princípios da escola”, explica Carla. Como sintoma dessa dissociação entre o esporte e o projeto pedagógico, 21% dos professores não sabem o que é um projeto político pedagógico (PPP) ou não conhecem o da sua escola (52% escolas privadas e 33% escolas do estado). A pouca ou nenhuma participação dos professores/treinadores na construção do PPP pode ser o motivo da discordância entre esses e os diretores/coordenadores, além de explicar a visão destes de que as PEEs não auxiliam na formação integral e na construção da cidadania.

Para Carla, “o esporte não é bom ou ruim, é o que fazemos dele. Frequentemente nos deparamos com afirmações e conceitos de que o esporte educa, afasta das drogas ou é a válvula de escape para a solução de todos os problemas gerados pela sociedade. Para vários autores e nesta pesquisa, a prática pedagógica ainda está longe de possibilitar a educação integral das crianças e jovens. O esporte educa se o programa no qual a criança está inserida oferecer ou trabalhar princípios educacionais.”

A pesquisadora aponta algumas sugestões como: o oferecimento de outras modalidades esportivas, bem como uma gestão pública com foco em políticas públicas que traduzam, de forma ordenada, os princípios emanados da Constituição e das Leis, em estreita articulação com a sociedade. Sobre a democratização das PEEs, acredita que o direito ao esporte também possa ser garantido em outros espaços que não a escola. Carla sugere, ainda, a execução de programas governamentais que articulem diferentes secretarias, além da participação da comunidade, para que os orçamentos possam ser otimizados.

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