São Paulo (AUN - USP) - Às vésperas de receber uma Copa do Mundo, um dos eventos esportivos mais importantes do planeta, o Brasil precisa de estádios que consigam atender as exigências da Fifa. Com 12 cidades-sedes já definidas, agora é hora de construir ou reformar as velhas estruturas.
Toda essa construção deve seguir algumas tendências internacionais, como demonstra Francisco Ferreira Cardoso, professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP) e presidente da Associação Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído (Antac). A principal delas é construir o que chamamos de ‘arena’, um local que possa abrigar mais coisas além de jogos de futebol, como shoppings, restaurantes e concertos musicais. O problema é que este equipamento trabalha com públicos e demandas diferentes, dificultando o trabalho do engenheiro civil.
“O conceito de ‘arena’ foi introduzido pelos europeus. Tem que ser um lugar multiespetáculo e ainda ser um equipamento que vai servir de estádio na Copa, com x mil lugares para atender as demandas da Fifa”, afirma Francisco Cardoso.
A construção dos estádios ainda deve seguir outras tendências. Hoje, todas as obras já são operadas de uma maneira diferente, pensando na pós-vida útil do equipamento. A idéia é que tudo que é construído possa ser desmontado um dia, evitando o desperdício de matérias.
Isso tudo vem à tona quando pensamos no estádio Fonte Nova, de Salvador (BA), que teve de ser demolido por ter se tornado obsoleto.
“A Fonte Nova está sendo dinamitada, mas podia ser desmontada, levada para a periferia, para o interior, e não se pôde fazer porque ela não foi concebida para ser desmontada”, diz o professor.
Outro ponto importante é que o projeto atenda o conceito de sustentabilidade. Com a água e a energia ficando escassas, por exemplo, o engenheiro deve se preocupar em montar estruturas que consigam reaproveitar os recursos naturais, como a chuva, e evite o desperdício.
O professor Francisco Cardoso ainda faz uma comparação interessante com a informática para demonstrar como um estádio deve ser pensado. Para ele, a obra não pode se focar apenas nas estruturas, o que ele compara com o hardware (parte física de um computador), mas também na questão da manutenção e da duração dos componentes com o passar dos anos, uma analogia ao software (suporte lógico do computador).
“O conceito vai até além da manutenção, pega também serviços para ver a logística interna: abastecimento de restaurantes, vestiários, sistema de informação para jornalista, segurança. Para o estádio funcionar não é só o hardware, tem também o software”, diz o professor.
Por fim, a estrutura deve ser pensada através na sua possibilidade de receber manutenções permanentes e intervenções ao longo do tempo. Assim, o valor gasto na construção é compensado com a durabilidade do equipamento, algo que não aconteceu na Avenida Paulista e no centro da cidade, por exemplo.
“O importante é pensar como consigo fazer uma estrutura que não fique obsoleta. Esse é o pior dos mundos e é o que acontece na Paulista, por exemplo. Hoje as empresas saem de lá porque os prédios não são adaptáveis às novas exigências. Foi o que aconteceu no centro da cidade há anos. Se o investimento é feito em uma estrutura que dura vários anos, os gastos são amortizados, é um investimento público em evento esportivo que consegue transformar uma cidade”, complementa.