São Paulo (AUN - USP) - O exercício de tentar ver o mundo com os olhos de uma criança, embora desafiador, pode facilitar a implantação de medidas que afetem o público infantil. Esse exercício foi um aspecto fundamental de três projetos apresentados no segundo dia do Simpósio Internacional de Iniciação Científica da Universidade de São Paulo.
A mesa "Comunicação, Arte e Infância" juntou a apresentação de doisprojetos de IniciaçãoCientífica("Processo de Identificação das Crianças com as Marcas", de Aline Simone Erédiae "A brincadeira e o jogo no cotidianoescolar", de Alex Magri), com a de um projeto de extensãouniversitária, o "Amigos da Leitura", comandada por Janaina França de Melo.
O primeiro projeto apresentado, da estudante de Relações Públicas, Aline Simone Erédia, fez uma investigação da mente infantil e da suscetibilidade dela aos apelos do consumo e do marketing, revelando o papel real e possível das Relações Públicas nesse cenário. Elas poderiam se tornar uma meio de aproximação responsável com o público infantil, mas, infelizmente , acabam sendo usadas para burlar as restrições feitas ao marketing. Daí o ceticismo com o qual a pesquisadora encara a auto-regulação do setor de Relações Públicas.
Mas o olhar infantil não é apenas explorado para benefício do mercado, como pode também promover uma maior eficácia dos serviços prestados às crianças. É o caso do projeto "Amigos da Leitura", apresentado por Janaina França de Melo. Grande parte do sucesso do projeto, que busca desenvolver o gosto pela leitura em crianças hospitalizadas, está ligada à maneira como os livros são apresentados à criança. Tudo é pensado para encorajá-la: além da leitura, são importantes também o contato físico com o livro e a atmosfera durante o contato. É a própria criança que faz as escolhas: " se a criança não aceitar, a gente não desenvolve essa leitura", diz Janaina. A leitura se torna mais atrativa por levar em conta o ponto de vista da criança.
A última apresentação da mesa abordou o ambiente escolar do ponto de vista dos alunos de seis a dez anos. Segundo o estudo, enquanto a visão dos pedagogos considerava as atividades cognitivas a parte mais importante do ambiente escolar, as crianças davam destaque ao aspecto corporal.
O recreio, por exemplo é considerado pelas crianças como elemento central do vida escolar. É nele que as relações entre as crianças se desenvolvem sem a mediação dos professores ou inspetores. Alex afirma que, de acordo com suas observações, na maior parte das vezes, as crianças "resolvem os conflitos entre si"e que, ao contrário da crença da maioria dos adultos, as brigas nem sempre são acompanhadas por um sentimento de animosidade. Quando questionado sobre uma briga pelo pesquisador, Caio, de dez anos, afirmou que gostava "de brigar, mas só na brincadeira". Esse é apenas mais um exemplo da importância de estudar a mente que difere da de um adulto e é, por isso mesmo, cheia de mistérios para aqueles que já passaram dessa fase.