São Paulo (AUN - USP) - “A palavra chave do próximo ano é desemprego”. Afirma Vera Thortensen, por 15 anos, principal assessora econômica da missão brasileira na Organização Mundial do Comércio (OMC), em Genebra (Suíça). Após um período de pesquisa na Europa e nos Estados Unidos, Vera volta ao Brasil e analisa a conjuntura atual e fala de como o sucesso econômico está baseado na instabilidade.

Apesar de apresentar um alto crescimento econômico, o Brasil conta com um grande índice de desemprego. No entanto, esse fato é menosprezado por economistas, que preferem falar do crescimento do setor de serviços e do crédito no país. Para Vera Thortensen, não é tudo tão simples e positivo. O crescimento do comércio e do mercado de bens, associado a um processo de desindustrialização gera um alto número de desempregados. Muitos especialistas discordam e defendem que esse é apenas um modelo mais dinâmico e que, aos poucos, o sistema estabiliza-se. No entanto, Vera acredita que isso não é possível. “Tem muito economista falando que o comércio dá conta, mas um shopping não precisa de tanta gente como uma fábrica”, pontua.

Quanto à questão do crédito, o problema está na onda de consumo exagerada, que de acordo com Vera, também deve ser repensada. “O Brasil não pode se dar ao luxo de estar consumindo com uma moeda tão alta”. Esse crédito disseminado por toda a população não é necessariamente positivo, visto que não existe uma produção de riquezas real. Para a economista, o consumo sem regulamentação gera uma instabilidade econômica. Além disso, em determinado momento o país não conseguirá conter tamanha demanda de produtos. “Precisa vender menos carro e construir mais metrô”, propõe.

Essa situação instável não é novidade, o mesmo aconteceu com os Estados Unidos, tanto na crise econômica de 1929 como na de 2008. “ Se o Brasil não tomar cuidado, a bolha vai estourar e o desemprego será o problema do país em 2011.”