São Paulo (AUN - USP) - A bactéria Borrelia burgdorferi teve sua sequência genética identificada em doença ocorrida no Brasil. O Laboratório de Investigação em Reumatologia da Faculdade de Medicina da USP detectou a genética da bactéria em carrapatos que transmitem a Síndrome Baggio-Yoshinari (SBY). “Até então, os exames de sangue dos pacientes podiam dar reação cruzada, isto é, falso positivo. Agora, podemos ter certeza de que a causa dos sintomas é a bactéria”, explica uma das responsáveis pela pesquisa, Elenice Mantovani. “Com isso, as pesquisas sobre a doença avançarão”, completa a pesquisadora.
Antes, a bactéria só era reconhecida em exames de sangue de pacientes com Lyme disease (DL), doença descoberta nos Estados Unidos, na década de 70, e muito comum no hemisfério norte. A borrelia é transmitida ao homem pela picada de carrapatos infectados pertencentes a algumas espécies do gênero ixodes (“carrapatos duros”). Mas por análise, mostrou-se que os aspectos epidemiológicos clínicos e laboratoriais no Brasil, divergiam bastante dos exibidos pelos pacientes com a doença nos EUA e na Eurásia. Não foram encontrados carrapatos do complexo Ixodes ricinus hematófago (que se alimentem de sangue) ao homem nas áreas de risco.
Foi definido então, que a borrelia é uma “enfermidade infecciosa nova e emergente brasileira, transmitida por carrapatos não pertencentes ao complexo Ixodes ricinus, causada por espiroquetas na sua morfologia atípica e latente, que origina manifestações clínicas semelhantes às observadas na DL, exceto pela ocorrência de recidivas clínicas e desordens auto-imunes". A enfermidade no país é recorrente; a Borrelia burgdorferi jamais foi isolada no Brasil.
Os primeiros casos semelhantes à Lyme disease no território brasileiro, foram descobertos, em 1992, em irmãos que após serem picados por carrapatos desenvolveram eritema migratório, sintomas gripais, como febre e dores musculares, e artrite. Outros sintomas são lesões na pele e meningite. Foram analisados 30 pacientes com Síndrome Baggio-Yoshinari e sintomas neurológicos. Os resultados mostram que os pacientes tinham entre 6 e 63 anos, dos quais 20 eram mulheres e 10 homens. Também foi observado um alto número de episódios recorrentes (73,6%) e distúrbios psiquiátricos e psicossociais graves (20%).