São Paulo (AUN - USP) - Uma das maiores estrelas da Via Láctea e a mais próxima da Terra com grandes dimensões, a Eta Carinae, está entrando em colapso. Ela sofre um apagamento parcial dos raios que emite a cada dia. No mês de junho o evento, chamado de “apagão”, vem se tornando mais intenso. Isto é o que afirma o pesquisador do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP (IAG), Augusto Damineli. Ele está monitorando a variação de luminosidade da estrela no Observatório do Pico dos Dias em Minas Gerais.
O brilho da estrela é medido por linhas espectrais, o “apagão” ocorre nas faixas ópticas mais energéticas (rádio, raios-X e infravermelho). Uma dessas linhas não foi vista no dia 22, pelo menos do solo no Pico dos Dias. “O apagão aconteceu e a estrela vai ficar assim por cerca de um mês”, diz Damineli. Outra pesquisadora do IAG, Zulema Abraham, também detectou o “apagão” neste dia em faixa rádio no radio observatório de Itapetinga. Em raios-X ela está quase apagando também. “Enfim, uma festa no céu”.
A próxima linha para desaparecer já está muito fraca. Isto deverá ocorrer, em torno do dia 28 de junho, mas pode permanecer até 1o de julho. O tempo medido para o evento estará dentro de 1 simga (5 dias) da incerteza. Diversas outras linhas devem se apagar nos próximos dias, configurando uma periodicidade com precisão de relógio.
No total, ao longo do "apagão", o brilho da estrela diminuirá o equivalente a 20 mil sóis, o que é bastante para nossos padrões, mas insignificante para os 5 milhões de sóis emitidos por ela. Não se notará praticamente nada a olho nu, pois o “apagão” acontece em faixas de luz específicas, só reveladas através de instrumentos. A estrela deverá ir voltando ao normal ao longo dos próximos dois meses.
Não existe uma teoria universalmente aceita sobre a natureza do "apagão". As Observações têm indicado que a eta Carinae passa por eventos de baixa excitação a cada 5 anos e meio. Em 1997, Damineli propôs a duplicidade como explicação. A Eta Carinae seria na verdade um sistema de duas estrelas gigantes, formando um par binário. A estrela principal, maior e mais luminosa, teria massa de 70 sóis, e nasceu com cerca de 110 massas solares. A secundária teria hoje 30 massas solares. Esta gira em torno da principal e passa rapidamente pelo periastro (máxima aproximação), a cada 5 anos e meio, ou 2.020 dias. A estrela secundária do par estaria sendo ofuscada ao passar através do intenso vento solar da estrela primária. "É como uma nuvem passando à frente do Sol. Ela não chega a eclipsá-lo, mas diminui a intensidade de seu brilho", diz Damineli.
A outra hipótese é de Kris Davidson, da Universidade de Minnesota. Ele havia criado um modelo para explicar o fenômeno dos “apagões” que contava com apenas um objeto para reproduzir o truque. Entretanto, pela Teoria da Estrutura Estelar, não se espera que estrelas muito luminosas se comportem como relógios, o que levou, ao longo dos últimos anos, a maioria dos cientistas a se mostrar mais favorável à explicação de Damineli. A importância da medição luminosa neste mês e a conseqüente constatação do apagão são comprovar a teoria de que a Eta Carinae tem periodicidade, o que contesta a hipótese de Davidson.
Por conta da nuvem enorme que envolve o sistema, é impossível hoje distinguir a existência de duas estrelas nas imagens. Aliás, é essa nuvem que impede que Eta Carinae seja hoje vista a olho nu, só com binóculos ou telescópios. Ela sofreu uma erupção gigante em 1843, que gerou a poeira que a envolve, tornando-se a segunda mais brilhante do céu, perdendo apenas para Sirius. As erupções ocorrem na periferia da estrela, não são de origem nuclear e não existe nenhum mecanismo físico que as explique. Apenas há 50 anos, a estrela começou a apresentar fenômenos de "apagamento" de luz em algumas faixas de luz. A Eta Carinae fica a 7,5 mil anos-luz da Terra, mais ou menos 67,5 quatrilhões de Km, à direita do Cruzeiro do Sul, já está com 2,56 milhões de anos, pouco perto dos 5 bilhões de anos do sol, de um total de 3 milhões.