São Paulo (AUN - USP) - Quem não conhece casos de idosos que levaram um tombo e, com isso, tiveram sérias seqüelas definitivas? O problema é freqüente mas, por enquanto, não se sabe o que fazer para evitá-lo. Isso porque as causas da perda do controle do equilíbrio em pessoas de idade avançada ainda são pouco conhecidas no meio científico. Mas isso está em vias de mudar.
O coordenador do laboratório de Biofísica da EFEE-USP, professor Marcos Duarte, busca melhorar o quadro: está desenvolvendo um projeto que objetiva diagnosticar as causas e conseqüências desta falta de equilíbrio. “Essa é uma patologia muito comum em pessoas de idade avançada. Queremos avaliar o problema de um ponto de vista clínico, e entender quanto do movimento voluntário da pessoa é afetado e prejudicado no dia-a-dia”, o que leva os idosos a sofrerem as quedas.
Para isso, o laboratório conta com tecnologia de ponta, adquirida através de bolsa da FAPESP: uma câmera de infravermelha, quatro câmeras normais, seis sensores de movimento e uma plataforma à prova d’água capaz de medir o peso e o centro de equilíbrio do paciente sobre ela. Para armazenar os dados e processar as informações, o software utilizado é de fabricação própria da USP.
“O equilíbrio é uma das capacidades mais integradas do ser humano: envolve coordenação, tempo de reação, força muscular, sistema sensorial (visual, ouvido interno e somato-sensorial) e sistema vestibular”, diz Duarte. Por esse motivo os estudos na área são escassos. A proposta da pesquisa é avaliar seletivamente os fatores da patologia, podendo “diagnosticá-los de forma específica”.
O processo é simples: liga-se aos pontos-chave (como juntas dos membros) do paciente fitas refletivas que permitem à câmera infravermelha realizar a captação dos movimentos – da mesma forma que os estúdios de animação fazem (motion capture), e essas informações são armazenadas no computador. O paciente então sobe na plataforma, e faz movimentos específicos, com um alvo determinado (por exemplo, subir um degrau). Através da observação, dos dados captados pelos equipamentos e das escolhas feitas pelo paciente para realizar o movimento, é possível diagnosticar onde estão suas deficiências. Seguindo este método, foi traçada a normalidade de adultos saudáveis, e os dados dos idosos são comparados a ela.
Para completar o estudo, Duarte está realizando um trabalho pioneiro: levar os mesmos pacientes à água e realizar testes semelhantes. “O meio aquático é muito usado para trabalhos com idosos, mas ainda não há no mundo análise do controle do equilíbrio nesse meio. O interessante é comparar os resultados nos dois meios e observar as diferenças”, diz o pesquisador.
Tal pioneirismo foi possível devido a dois fatores principais: “compramos os equipamentos certos e desenvolvemos algo de tecnologia própria, pois é impossível competir com os pesquisadores lá fora”, que têm uma infra-estrutura muito maior.
Os resultados obtidos até agora serão divulgados no Congresso sobre Progresso em Controle Motor, que será realizado na França, de 20 a 23 de agosto deste ano.
A pesquisa terminará em fevereiro de 2004, mas a idéia de Duarte é expandir o projeto: “queremos dar continuidade à pesquisa, e trabalhar na área de recuperação dos pacientes”, diz. “É bastante desafiador”.