São Paulo (AUN - USP) - Passadas quase duas semanas dos cataclismos naturais acontecidos no Japão – e com a usina nuclear de Fukushima sob vigia constante, é possível já fazer certas análises a respeito das consequências que os acidentes trarão para o mundo. Na visão de Gilmar Masiero, professor de Administração da Faculdade de Administração, Economia e Contabilidade da USP e coordenador do ProAsia, grupo de estudos sobre China, Japão e Coréia do Sul, os desastres terão um impacto menor do que se pensa na economia e no cotidiano das pessoas ao redor do mundo. “Trata-se de um fenômeno muito mais localizado do que universal, como é o caso de uma crise financeira”, declarou ele, utilizando como exemplo o colapso dos Tigres Asiáticos, em 1997.
Apesar da quantidade expressiva de empresas japonesas nos setores eletroeletrônico e automobilístico, é possível dizer que não haverá aumentos nesses produtos para o consumidor brasileiro. Isso acontece, segundo o professor, “o brasileiro não consome produtos japoneses em larga escala, e também porque as empresas japonesas hoje detém a tecnologia, mas suas fábricas não se localizam mais no solo nipônico”. Com relação às exportações, se o Brasil for afetado pelos últimos acontecimentos, será de maneira positiva, acredita Masiero: “Com a reconstrução do país, é possível que o principal produto que vendemos para eles, o minério de ferro, tenha um aumento de demanda. Assim como outros produtos: soja, etanol, suco de laranja. Em resumo: eles comprarão mais o que já compram hoje”.
No que diz respeito ao que pode acontecer no mercado financeiro japonês, Gilmar tem uma posição definida: "Tenho a impressão que os desastres ecológicos impactam menos no preço das empresas que determinados movimentos especulativos. Ambas as coisas são difíceis de controlar, e é bem difícil prever as ações do mercado, mas apostaria que o investidor que comprar papéis de indústrias nipônicas não sairá ganhando tanto assim”.
Os desastres, na visão do acadêmico, também não afetarão significativamente a economia japonesa, apesar de este ter sido o maior terremoto em graus Richter da história do arquipélago asiático. “Ao se desenvolver economicamente, o Japão também criou tecnologias muito sofisticadas de controle, preparação e organização para eventos dessa natureza, tornando o estrago, do ponto de vista material, pouco significativo”. Mas ele ainda ressalta que, em termos humanos, é difícil dimensionar uma tragédia: “Uma vida perdida é sempre uma vida perdida, não importa o contexto ao redor”.
Quando questionado sobre a situação econômica estagnada da Terra do Sol Nascente, Masiero procura deixar claro que se trata de um mito: “Em 2007, o PIB deles foi de 2.4%, o que não é uma taxa desprezível. Se nos anos seguintes os índices foram negativos, isso acontece pelo fenômeno generalizado da crise americana. Em comparação com outros desenvolvidos, não se veem problemas. A questão é que os japoneses já tiveram sua época de grande boom econômico, quando alocaram quase na totalidade seus recursos de capital, trabalho e terra”.
Na prática, o que Gilmar conclui a respeito dos últimos acontecimentos, é que eles foram muito mais um fenômeno localizado do que exatamente um problema mundial. “O grande tsunami que não só os japoneses, mas o mundo todo ainda precisa enfrentar, é a crise financeira de 2008. Se tivermos que eleger um, esse seria o grande ‘bicho papão’ da economia nos dias de hoje”.