ISSN 2359-5191

04/04/2011 - Ano: 44 - Edição Nº: 04 - Saúde - Faculdade de Medicina
Pesquisadores já controlam dor em pacientes com pênfigo

São Paulo (AUN - USP) - A dor é uma das principais complicações causadas pelo pênfigo, uma doença que provoca o aparecimento de bolhas e queimaduras na pele e nas mucosas. Com o objetivo de controlar essa dor, o professor da Faculdade de Medicina da USP Irimar de Paula Posso e a aluna de doutorado Áquila Lopes Gouvea desenvolveram uma pesquisa com os pacientes do Hospital das Clínicas de São Paulo.

O projeto vem sendo realizado desde dezembro de 2008. Segundo o professor, a pesquisa tem o intuito de melhorar as condições do tratamento dos pacientes e diminuir seu sofrimento. Por meio de diferentes associações de medicamentos, os pesquisadores puderam chegar a um consenso e a uma combinação de fármacos que possibilitam um controle efetivo da dor em pessoas acometidas pela doença.

O pênfigo tem como sintoma principal o surgimento de bolhas e queimaduras nas camadas mais superficiais da pele e nas mucosas, como a boca, o esôfago e as áreas genitais. Ele é causado pelos anticorpos, que passam a exercer uma atividade de autoagressão, atacando a pele e provocando a perda de aderência entre as células da epiderme. Isso resulta nas bolhas e feridas, que podem se espalhar pelo corpo inteiro. Por meio das feridas, o doente perde líquidos e substâncias essenciais ao funcionamento do corpo. As lesões são extremamente dolorosas e agudas. “Na maioria das vezes a dor é desconsiderada pelos médicos, o que dificulta a recuperação do paciente”, afirma o professor Irimar, que a partir dessa constatação passou a pesquisar a melhor maneira de controlar as dores de pessoas acometidas pelo pênfigo.

Pesquisa focada na dor
“O que nós queremos é humanizar o tratamento e facilitar a recuperação do paciente, pois nunca foi feito nenhum estudo sobre o controle da dor nesse tipo de doença”, disse o professor, especialista em anestesiologia. “Muitas vezes a velocidade e a eficiência do tratamento são prejudicadas pelo fato de os médicos desconsiderarem a dor do paciente”, completa.

A pesquisa foi realizada por meio da medicação dos pacientes com diferentes tipos de fármacos e com variadas associações entre eles: opiáceos (responsáveis diretos pela diminuição ou eliminação da dor local, como morfina, codeína, tramadol, metadona e fentanil); não-opiáceos (analgésicos que reduzem a inflamação, como dipirona e paracetamol); e adjuvantes (não são analgésicos, mas contribuem com a diminuição da dor, como antidepressivos e anticonvulsionantes).

A média anual de pacientes submetidos ao tratamento/pesquisa de controle da dor causada por pênfigo foi de 60 pessoas. O professor ainda ressalta que há mais casos de pênfigo em outras localidades no Brasil e explica: “Aqui no Hospital das Clínicas nós realizamos o tratamento da dor apenas em pacientes com dores de moderadas a intensas. Muitas pessoas vêm e recebem apenas tratamento ambulatorial”.

Após o estudo e a análise retrospectivos dos resultados das diferentes combinações, os pesquisadores verificaram que nenhum dos fármacos e nenhuma das combinações piorou a dor do paciente. Dessa forma, chegaram a um consenso sobre uma combinação de medicamentos que controlam a dor dos pacientes de forma eficiente: a aplicação de morfina juntamente com paracetamol e um anticonvulsionante, a gabapentina.

A escolha da morfina deve-se ao fato de que ela é um medicamento universal quanto ao tratamento da dor, e pode ser encontrado em quase todos os hospitais do mundo. Já a opção pelo paracetamol foi feita por motivos acadêmicos, visto que a dipirona não é aceita por revistas e instituições internacionais. A combinação destes dois fármacos executa uma sensível diminuição da dor do paciente. Por fim, a gabapentina ameniza os efeitos colaterais causados pela morfina e pelo paracetamol e potencializa os efeitos destes analgésicos, resultando num controle eficiente da dor do paciente.

Dois tipos de doença. Um tratamento
Existem dois tipos diferentes de pênfigo. O foliáceo acomete principalmente jovens e crianças que vivem em áreas rurais. No Brasil, sua maior incidência é em Minas Gerais e na Região Centro-Oeste, com destaque para o Mato Grosso. Por esse motivo, cogita-se que a doença seja transmitida por meio de um vetor, como um mosquito. As bolhas são mais superficiais e rompem-se facilmente, mas não aparecem nas mucosas. A dor não é tão intensa. Devido à sensação de ardência e queimação causada pelas feridas, é conhecido também com fogo selvagem.

O outro tipo de pênfigo é o vulgar, o mais grave. Geralmente começa com lesões na mucosa oral e, mais tarde, provoca o surgimento de bolhas na pele com líquidos turvos ou sanguíneos, que confluem e se rompem. As feridas deixadas são mais profundas e a intensidade da dor é maior. Chega a atingir a área genital. Segundo o professor Irimar, uma das causas possíveis para o pênfigo vulgar é uma anomalia genética, mas ainda não há nada comprovado quanto a esse tópico.

O tratamento é basicamente o mesmo para os dois tipos da doença. Ele é realizado principalmente por meio de altas doses de corticoide, um anti-inflamatório que exerce função imunossupressora, ou seja, enfraquece os anticorpos. O principal problema consiste no fato de que o doente fica enfraquecido, em uma situação muito propícia a infecções, pois suas defesas corporais estão em nível muito baixo. Além disso, as lesões na boca e no esôfago provocam dificuldade para engolir, o que contribui ainda mais para a queda de energia e do estado geral do paciente. Dessa forma, o banho com um antisséptico (geralmente o permanganato de potássio), a higienização correta, a dieta e a hidratação são medidas importantíssimas para o tratamento. No entanto, conforme dito pelo professor de Irimar, muitas vezes a dor dos pacientes é deixada de lado, o que diminui a efetividade do tratamento e provoca maior sofrimento aos doentes.

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