São Paulo (AUN - USP) - O Laboratório de Sistemas Integráveis da Escola Politécnica da USP organizou a 9ª Feira Brasileira de Ciências e Engenharia, a Febrace. Entre os dias 22 e 24 de março, 670 estudantes de todas as regiões do país encontraram-se em um galpão montado na Poli para apresentar projetos de destaque.
Foram selecionados 302 projetos entre 1.427 trabalhos inscritos, divididos em cinco áreas: engenharia (67 projetos), ciências exatas e da terra (57), humanas (62), sociais aplicadas (30), biológicas (47), saúde (23) e agrárias (16). Eles foram avaliados por uma comissão formada por professores de diversas instituições e áreas das ciências e engenharia.
A Febrace contou com uma votação aberta no site e no galpão do evento. Os visitantes escolheram seus projetos favoritos, que foram homenageados no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo estadual de São Paulo.
Do Amazonas para o mundo
A Fundação Nokia de Tecnologia, uma escola técnica de Manaus, destacou-se por levar à Febrace cinco dos dez projetos que inscreveu. Todos os alunos estavam identificados com camisas da instituição, destacando-os entre os expositores, de camisetas azuis.
Um dos mais procurados foi o Arvo, ou Automatic Recycling of Vegetable Oil (Reciclagem Automática de Óleo Vegetal), desenvolvido no ano passado pelos alunos Marcel de Almeida Siqueira e Allan Soares de Sousa, ambos de 16 anos. Eles cursavam o segundo ano do colegial quando criaram uma máquina que transforma óleo vegetal em sabão. Os alunos focaram nos perigos da soda cáustica à saúde humana durante o desenvolvimento da máquina. Pensando nisso, desenvolveram um sistema que não exige contato entre a pessoa e a substância tóxica.
O equipamento tem o tamanho de um móvel comum e utiliza um motor elétrico em seu funcionamento. Basta adicionar o óleo usado, amaciante, água e soda cáustica. Em um minuto e 20 segundos, a pessoa tem a massa do sabão preparada. Basta deixar a massa secar por um dia e o produto está pronto para ser usado.
O Arvo foi um dos nove projetos selecionados por uma comissão especial de profissionais do mercado e pesquisadores da USP para representar o Brasil na International Science Fair, maior competição mundial de projetos desenvolvidos por pré-universitários. Em 2011, a ISEC será realizada em Los Angeles entre os dias 8 e 13 de maio.
Responsabilidade social impulsiona projeto
O Amazonas foi berço de outro projeto inovador, o Sistema Imobilizador de Veículos por Detecção de Motoristas Alcoolizados (SIVDMA). Criada no ano passado pelas alunas Sandy Ferreira da Silva, 19, Karen Cristhian Conde e Larisse Anselmo, ambas de 18 anos, a invenção é capaz de detectar a distância se o motorista consumiu bebidas alcoólicas. O projeto, trabalho final obrigatório de uma disciplina da Fundação Nokia, foi desenvolvido com foco no impacto social que poderia causar.
O equipamento é muito simples e custa pouco menos de R$ 50. Um medidor de álcool, que capta vapores da substância a até 45cm de distância, regula a tensão de um circuito conforme a quantidade medida. O sensor pode ser instalado, por exemplo, no volante do carro. Caso o álcool detectado ultrapasse o limite legal, o circuito é ativado e o carro não liga. Se o motorista beber enquanto dirige e o sensor detectar, um aviso luminoso aparece no painel e ele tem 20 segundos até que a parada do veículo.
A notícia de que o projeto foi escolhido para a Febrace surpreendeu as meninas. “A gente não era nerd”, conta Larisse, que recebeu congratulações desoladas dos “nerds”. Atualmente, as três cursam engenharia em universidades públicas do Amazonas.
Moda na feira de ciências
Thaís Mayara Ferreira Coelho e Flávia Almeida de Miranda, ambas com 15 anos de idade, sempre gostaram de moda e estilo. No início do ano, a Nova Escola, em São Paulo, apresentou a seus alunos a oportunidade de desenvolver um projeto de iniciação científica que poderia ser usado na Febrace. As duas decidiram então fazer um estudo sobre a influência que a moda tem sobre as sociedades.
Thaís destaca que, enquanto a maioria dos outros projetos envolve criações e desenvolvimento de tecnologias, seu estudo é tradicional, pautado em pesquisa e observação. De acordo com o estudo, a sociedade de hoje baseia-se no excesso de ofertas e produtos que, aliados a estratégias de marketing eficientes, estimulam o consumo. Assim, o “eu” baseia-se em outros “eus” e a moda surge como vínculo entre os indivíduos.
“Todo mundo pensa que a gente quer fazer moda”, diz Thaís, que procura destacar o caráter científico e sociológico do estudo. O método das meninas consistiu em análises de enquetes, entrevistas com colegas de classe e livros sobre o assunto.