São Paulo (AUN - USP) - O Museu de Arte Contemporânea (MAC) da USP exibe, até o dia 31 de julho, em sua unidade do Parque do Ibirapuera, a exposição Um dia terá que ter terminado – 1969/74. A segunda parte entre três da mostra (a primeira vai de 1964 a 1968, e a terceira, de 1975 a 1985) reúne obras que refletem a tensão política do período mais sombrio da Ditadura Militar, e a resistência artística que nasce desse contexto. A exposição procura reavivar o acervo do MAC sob um olhar crítico do papel do Museu, que tem sua instituição posta em xeque em períodos de grande efervescência cultural, como o da Ditadura.

O MAC foi fundado em 1963, pouco antes da derrocada da democracia no Brasil. Por estar associado à Universidade, o acervo museológico que se formava tinha um diferencial: era uma possibilidade de pesquisa acadêmica. Isso conferiu ao museu o papel de aproximação da produção artística do período, já que proporcionava não só um diálogo entre o artista e o público, mas entre a arte e o pesquisador. “O museu universitário era visto como um espaço de resistência artística e de consolidação de um acervo, o qual é essencial para a pesquisa científica”, diz a professora Ana Magalhães. O MAC conta com a Divisão de Pesquisa em Arte, Teoria e Crítica, em que são realizadas pesquisas voltadas para a fotografia no Museu, Arte Conceitual e Arte Moderna, lideradas pela professoras Helouisa Costa, Cristina Freire e Ana Magalhães, respectivamente. As três formam o trio curador da exposição.

Ao entrar na mostra, um grande mural com fotos antigas serve para situar o visitante no que será uma viagem no tempo, deslocando-o para quando aquele mesmo espaço físico fora palco de inovações artísticas que marcaram a produção cultural do século 20. Documentos históricos como cartas, catálogos de exposições, revistas e outras publicações reforçam a sensação de reconstrução da atmosfera de resistência à Ditadura. A exposição conta com críticas à realidade brasileira da época por meio de símbolos, além de experimentações com fotografias, montagens, utilização de objetos inusitados, construções tridimensionais e o primeiro videoarte do Brasil (da artista Analívia Cordeiro, de 1973). O título da exposição também se explica na visita: está exposta uma carta do artista plástico Sérgio Ferro, que, percebendo que seria exilado, pede para o diretor do Museu, Walter Zanini, que cuide de sua obra São Sebastião (Marighella), que estava inacabada. O artista termina a carta com votos de “que, um dia, o quadro – ou o que ele lembra – terá que ter acabado”.

Segundo a curadora Ana Magalhães, o intuito da exposição não era buscar um significado político por trás daquelas obras, mas sim evidenciar o papel crucial do Museu em períodos de conturbação social, como o da Ditadura Militar e os dias atuais. “Estamos em um contexto não tão restritivo quanto antes, mas vivemos conflitos que redesenham o cenário mundial”, diz. “Hoje, mais do que nunca, a arte foi transformada em mercadoria. Mas ela continua sendo um campo de questionamento e prenúncio das mudanças na sociedade”.

Novamente, portanto, os acervos de museus ganham foco de pesquisas acadêmicas que procuram analisar de forma sensível (ou seja, com uma visão ampla que permita um reconhecimento da alteridade) os aspectos presentes na nova produção cultural que nos cerca.

Exposição “Um dia terá que ter terminado – 1969/74”
Período: 01/03/2011 a 31/07/2011
Local: MAC USP Ibirapuera. Parque do Ibirapuera, s/nº, São Paulo, SP
Funcionamento: Terça a domingo, das 10h às 18h
Ingressos: Gratuito