ISSN 2359-5191

15/04/2011 - Ano: 44 - Edição Nº: 13 - Meio Ambiente - Escola Politécnica
Pesquisadoras da Poli realizam estudo inédito no país

São Paulo (AUN - USP) - Um estudo pioneiro no Brasil quer quantificar as reservas de carbono presentes na madeira do país. As pesquisadoras Érica Ferraz de Campos e Kátia Punhagui, da Escola Politécnica (Poli) da USP, estão desenvolvendo uma pesquisa que avalia o caminho percorrido pela madeira desde o corte até o processamento para determinar se o material pode ser considerado um estoque de carbono.

Apesar de tratarem de um mesmo assunto, Érica e Kátia coordenam cada uma seu próprio projeto. Enquanto o trabalho de Érica é voltado especificamente à madeira nativa da Amazônia, que é extraída diretamente da mata, Kátia pesquisa também a madeira plantada.

A principal meta dos projetos vai além de simplesmente determinar quanto carbono é emitido no processo produtivo da madeira. Há um grande déficit desse tipo de informação no Brasil, que obriga as pesquisadoras a comparar os resultados com dados estrangeiros que não refletem a realidade nacional. “No Brasil, a gente não tem nenhum desses dados”, diz Kátia. Na França, por exemplo, há agências oficiais que realizam pesquisas auditadas sobre o assunto.

Para ser considerada um estoque de carbono, a madeira precisa ser utilizada em aplicações de longo prazo. A madeira brasileira, especialmente a nativa, é ideal para esses fins, pois é muito nobre e dura anos. Algumas espécies têm qualidade tão superior que dispensam tratamentos, podendo ser serradas e imediatamente utilizadas. Contudo, em todo o território há um subaproveitamento do material, que é aplicado em serviços simples e que não exigem madeira de qualidade.

Kátia aponta uma tendência na queda do mau uso da madeira, especialmente por questões financeiras. Com o aumento da fiscalização e uma diminuição sensível da ilegalidade, o preço, que não era baixo devido a grande distância percorrida, subiu. A pesquisadora prevê uma melhora no uso do material: “Em algum momento, não vai ser viável usar essa madeira para qualquer fim”.

Os números do país
Através de documentos oficiais, como o DOF (Documento de Origem Florestal), e de informações fornecidas pelos próprios madeireiros, as pesquisadoras conseguiram estimar quanto carbono contém uma floresta e quanto é emitido desde o corte até o destino final da madeira.

Os cálculos de Érica, cujo estudo sobre o transporte da madeira nativa estão mais avançados, são baseados em dados oficiais e mostram que a madeira viaja em média 65 quilômetros do corte à serraria e então mais 1.696 quilômetros até o destino final. Devido a facilidades de armazenamento, fica muito mais barato e produtivo beneficiar as toras em locais próximos à extração, por isso a média baixa.

A grande distância percorrida pela madeira serrada explica-se pela distância dos mercados consumidores, concentrados especialmente no sudeste e sul do país. A maior distância encontrada em um DOF foi de 4.362 quilômetros, relativos a uma viagem entre o Acre e Chuí, no Rio Grande do Sul.

Outro valor estimado é quanto combustível é gasto para transportar uma tonelada por um quilômetro. O resultado encontrado é de 0,013 litro de diesel por tonelada-quilômetro. Supondo que uma carreta transporte 10 toneladas de madeira, com uma viagem média de 1.700 quilômetros, serão gastos impressionantes 221 litros de combustível.

Com esse dado em mãos, Érica conseguiu estimar quantos gramas de gás carbônico são emitidos a cada tonelada transportada por um quilômetro. O valor médio encontra-se entre 12 e 50 gramas de CO2 por tonelada-quilômetro. Érica explica que o valor não é preciso porque vários fatores influenciam o cálculo, desde a condição do veículo e da estrada à espécie de árvore transportada.

Embora esses sejam os primeiros dados sobre o assunto apurados no Brasil, o estudo pode ser comparado com informações de outros países, como Reino Unido e Japão. Especificamente nestes países, o valor ultrapassa 200 gramas por tonelada-quilômetro, enquanto a média mundial apontada pelo GHG Protocol é de 186 gramas.

A discrepância tem algumas explicações, como a matriz energética de cada país, levada em conta no cálculo. As pesquisadoras dizem também que esse valor pode ser um pouco superior ao real, divulgado para alertar as autoridades e promover mudanças mais rapidamente. Inflado ou não, o número assusta e é essencial diminuí-lo.

Apesar de ainda não ter sido concluído, o estudo já mostra que entre 5% e 20% do estoque de carbono da madeira é perdido no transporte. Entram ainda muitos outros fatores, como o destino dos resíduos e a biomassa degradada na extração, que equivale à metade do volume total extraído.

A expectativa de Érica é, além de apresentar dados concretos, estimular novos estudos sobre o assunto. “Precisamos mostrar como faltam dados e informação, para incentivar essa pesquisa. Muito ainda precisa ser desvendado”, conta a pesquisadora. Ela brinca que, daqui a cinco anos, espera que outros trabalhos já tenham deixado o seu desatualizado.

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