ISSN 2359-5191

15/04/2011 - Ano: 44 - Edição Nº: 13 - Economia e Política - Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade
Debate na FEA discute impactos sociais e políticos da Copa de 2014
Juca Kfouri e Maria Elisa Miranda comentam problemas de infraestrutura para realização do torneio

São Paulo (AUN - USP) - No último dia 12, terça-feira, ocorreu na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP (FEA) a primeira edição de 2011 do FEA Debate, grupo de discussões sobre atualidades, montado por alunos da própria unidade. A palestra, com o tema Copa do Mundo e Impactos Sociais, e contou com a presença do jornalista Juca Kfouri e da geógrafa e professora Maria Elisa Miranda, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP (FFLCH). Por cerca de duas horas, os dois conversaram entre si e com a plateia, de cerca de 400 pessoas, a respeito dos entraves, vantagens e problemas que a organização da Copa de 2014 e da Olimpíada de 2016 pode trazer para o Brasil.

O jornalista abriu a apresentação comentando a ideia de que ser sede de eventos esportivos de tamanhas proporções é um enorme cartaz para qualquer país. Ele citou casos conhecidos de sucesso, como Barcelona-92, que reergueu a cidade, outrora decadente, e alertou para o perigo de se fazer uma má exibição: "O risco de se fazer isso de maneira ruim é o como o de Atenas-2004, na Grécia. Não por acaso, hoje [a economia do país se encontra] quebrada, em grande parte, por culpa do gigantismo que se tentou fazer ali". Além disso, ele se pergunta qual é o legado que essa Copa vai deixar para o país: “Não vejo melhorias em aeroportos, nem despoluição de rios e lagoas, nem melhorias no transporte público. Eu vejo tudo sendo feito às pressas.”

Já a professora Maria Elisa procurou mostrar um lado diferente da visão otimista corrente na sociedade: "Diz-se que a construção desses estádios e melhorias tem gerado empregos. De fato, mas são empregos em condições miseráveis. Um exemplo é o de operários que retornam aos barracões para almoçarem e descobrem que não tem comida”. Outro ponto levantado pela geógrafa é a questão da infraestrutura: “Seremos capazes de sanar a crise aérea a tempo? Temos vagas em hotéis e pessoal treinado para recepcionar os turistas?”, questiona.

Juca Kfouri fez ainda uma crítica ao Comitê Organizador da Copa, cujo comando é controlado pela CBF, organização chamada pelo jornalista como “aristocracia feudal, domínio dos Teixeira e dos Havelange”, fazendo referência ao atual presidente da entidade. “A diretora executiva da Copa é Joana Havelange, filha de Teixeira. O homem de comunicação, por coincidência, é o mesmo da CBF: Rodrigo Paiva. No comitê não se veem brasileiros ilustres, como um Gerdau ou um Ermírio de Moraes, ou um representante da OAB, alguém da sociedade civil de fato”. Ele ainda destaca a construção de “elefantes brancos”, que serão financiados com o dinheiro do contribuinte: “Estamos fazendo estádios para 70 mil pessoas em Brasília, Manaus, Cuiabá, lugares que mal têm futebol profissional. E aí vão dizer que o Morumbi não serve para a Copa. É um escárnio dizer isso. Na França, por exemplo, só se construiu um estádio, o Stade de France.”

Quando questionado pela plateia se havia risco do Brasil não sediar a Copa por não conseguir deixar tudo pronto – EUA e Canadá já se ofereceram para sediar o evento caso as obras não estejam finalizadas a tempo por aqui – Juca respondeu que isso não deve acontecer. “Não acredito nisso. O Brasil não se submeteria a tal vexame de fracassar ao receber os dois maiores eventos do mundo. O risco é que se façam as coisas como no Pan-07: tudo se resolve às pressas, em caráter de contingência emergencial, com um gasto muito maior que o previsto e de maneira que não gerará benefícios posteriormente.”

Entretanto, na visão do jornalista, sediar o evento ainda é algo válido: “Sempre tem alguém que me pergunta: mas como vão fazer uma Copa se tem gente passando fome no Nordeste? Se fosse assim, o homem não teria ido para a Lua – e o dinheiro gasto nisso também não teria ido para a erradicação da fome”. Ele ainda acrescenta que a Copa, de um jeito ou de outro, trará benefícios ao país. Mas pergunta: “A questão é saber se vamos fazer um torneio apenas para mostrar esse país para o mundo ou se vamos de fato fazer uma Copa do Mundo no Brasil, para o Brasil. Qual é a opção que queremos? Cabe a vocês, como parte da sociedade, discutir isso.”

Leia também...
Nesta Edição
Destaques

Educação básica é alvo de livros organizados por pesquisadores uspianos

Pesquisa testa software que melhora habilidades fundamentais para o bom desempenho escolar

Pesquisa avalia influência de supermercados na compra de alimentos ultraprocessados

Edições Anteriores
Agência Universitária de Notícias

ISSN 2359-5191

Universidade de São Paulo
Vice-Reitor: Vahan Agopyan
Escola de Comunicações e Artes
Departamento de Jornalismo e Editoração
Chefe Suplente: Ciro Marcondes Filho
Professores Responsáveis
Repórteres
Alunos do curso de Jornalismo da ECA/USP
Editora de Conteúdo
Web Designer
Contato: aun@usp.br