ISSN 2359-5191

27/04/2011 - Ano: 44 - Edição Nº: 15 - Saúde - Faculdade de Medicina
Tomógrafo melhora diagnóstico e tratamento de doenças pulmonares

São Paulo (AUN - USP) - Um novo aparelho médico está permitindo maior eficiência no diagnóstico e no tratamento de doenças pulmonares. Projetado por pesquisadores da Faculdade de Medicina e da Escola Politécnica da USP, o Tomógrafo por Impedância Elétrica (TIE) dá informações em tempo real sobre o funcionamento dos pulmões e facilita o controle do fluxo de ar nesses órgãos de pacientes que necessitam ajuda de aparelhos respiratórios. O projeto vem sendo desenvolvido no Hospital das Clínicas (HC) há mais de dez anos pelo professor Marcelo Amato e pelo cardiopneumologista Carlos Roberto de Carvalho.

Segundo Carvalho, chefe da UTI-Respiratória do HC, o projeto foi motivado e impulsionado pelo alto índice de mortes derivadas da Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo (SDRA), cujo tratamento se baseia no uso de um aparelho de ventilação mecânica do ar. Até o início dos anos 90, morriam mais de 60% das pessoas acometidas pela grave doença, que provoca a inflamação do pulmão e o surgimento de edemas de água, o que prejudica a circulação do sangue na região pulmonar e dificulta a entrada de ar. A principais causas para o desenvolvimento do problema são grandes traumas, como atropelamentos e quedas de altitudes elevadas.

O aparelho
O novo tomógrafo qualificou e potencializou o tratamento da SDRA, fazendo a taxa de mortalidade da doença cair para uma média de 35%. Dotado de grande mobilidade, o aparelho consiste em uma ferramenta à beira leito não invasiva, que fornece imagens 2D em tempo real do funcionamento do pulmão, permitindo a observação da movimentação do ar (ventilação) e da circulação sanguínea (perfusão). Dessa forma, o TIE fornece informações mais precisas para o diagnóstico, condução e aplicação de ajustes nos tratamentos específicos dos pacientes, pois cada um desenvolve suas próprias complicações. Como comparação, o aparelho de Raio-X, por exemplo, fornece uma imagem estagnada e estrutural do pulmão, sem revelar como ele está funcionando.

A ideia do TIE surgiu de um protótipo vindo da Universidade de Sheffield (Reino Unido). A partir dele, o professor Amato desenvolveu, em parceria com a Escola Politécnica, um aparelho muito mais qualificado, que solucionou os problemas técnicos e matemáticos do original.

O tomógrafo fornece uma visualização instantânea dos pulmões do paciente e permite aos médicos um maior controle da pressão, do volume e do fluxo de ar aplicado nos pulmões pelo ventilador mecânico.

Baseados nestas condições, os pesquisadores elaboraram uma estratégia protetora de ventilação mecânica, que ajuda o pulmão a se recuperar melhor e aumenta a taxa geral de sobrevivência dos pacientes. A fase mais crítica do tratamento com o ventilador dura em média uma semana, tempo em que o paciente fica sedado 24 horas por dia.

O tomógrafo é aplicado no paciente por meio de um cinto de 32 eletrodos que dá a volta no tórax. Os eletrodos são conectados a fios que, por meio de correntes elétricas de baixa intensidade, transmitem as informações a uma tela, em que aparece um corte transversal instantâneo dos pulmões. O custo de produção da unidade do aparelho está hoje entre R$ 10 mil e R% 15 mil.

Desdobramentos
O uso do tomógrafo já está sendo expandido e estudado para que seja aplicado em doenças e complicações pulmonares além da SDRA. Entre elas pode-se destacar a hipertensão, o enfisema, a asma, as complicações causadas por transplantes ou perfurações de pulmão, o aparecimento de água na pleura e problemas na circulação sanguínea no órgão respiratório.

De acordo com Carvalho, o TIE pode contribuir para uma melhor identificação das dinâmicas e do funcionamento dos pulmões e, até mesmo, em mudanças nos conceitos sobre a fisiologia pulmonar. Além disso, a nova estratégia protetora de ventilação artificial passou a ser aplicada em diversos países.

Por esse trabalho, Amato recebeu, em março deste ano, o Prêmio Peter Murányi, disputado entre 120 projetos de diversas instituições científicas latino-americanas. Além disso, o projeto de pesquisa já foi publicado no The New England Journal of Medicine, a revista de medicina mais importante do planeta.

Atualmente, apenas 11 hospitais do mundo inteiro possuem o TIE. Entre eles, quatro estão em São Paulo: a UTI do Instituto Central do HC, o Ambulatório de Pneumologia do HC, o Ambulatório de Hipertensão Pulmonar do Incor e a UTI do Hospital Albert Einstein. Entre as instituições internacionais destacam-se a UTI Geral do Massachussets General Hospital, administrado pela Universidade de Harvard, e a Universidade Católica de Madrid.

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