São Paulo (AUN - USP) - Os moradores da zona oeste de São Paulo podem agora ter instruções gratuitas e de qualidade sobre alimentação saudável. O Centro de Referência para Prevenção e Controle de Doenças Associadas à Nutrição (CRNutri), pertencente à Faculdade de Saúde Pública (FSP-USP), estabeleceu uma nova forma de organização do atendimento e do tratamento de pessoas que desejam ou necessitam acompanhamento nutricional, com foco na atenção básica da saúde. O projeto é coordenado pelas nutricionistas Samantha de Andrade e Viviane Laudelino, com a colaboração dos alunos da graduação e pós-graduação do curso de nutrição.

Inaugurado em 2009, o CRNutri é uma unidade básica de saúde, vinculada ao Centro de Saúde Escola Geraldo de Paula Souza. Ele atende a população que vive no entorno da FSP. Cerca de 150 mil pessoas têm direito a esse atendimento, independentemente da classe social ou faixa etária. Após dois anos de trabalho, os resultados foram apresentados na própria Faculdade, realizado no dia 26 de abril.

Já estão registradas na unidade 1.340 pessoas, que foram encaminhadas para atendimento. A cada ano são formados 25 grupos de pacientes. Cada aluno supervisiona dois grupos em um período de dois meses e meio. O tratamento vai desde triagens, avaliações antropométricas e construção de banco de dados até a promoção de oficinas educativas e consultas nutricionais individualizadas. “Estes dois anos serviram para encaminhar o CRNutri, organizar e melhorar o atendimento. Agora o nosso intuito é expandir o alcance do centro”, afirma Samantha. O projeto já foi até apresentado em alguns eventos internacionais, como o Congresso Mundial de Saúde e Nutrição do Porto, em Portugal.

Segundo as nutricionistas, a procura pelo Centro é maior por parte de idosos e adultos. Além disso, a maioria das pessoas requer o atendimento quando já possui algum problema de saúde, como hipertensão, diabetes ou excesso de peso. São raros os casos em que alguém quer apenas melhorar seus hábitos alimentares.

O atendimento
As nutricionistas explicam que existe toda uma seqüência organizacional no atendimento e tratamento dos pacientes. No início, as pessoas são encaminhadas para a triagem e, após a coleta de dados, são divididas em grupos específicos iniciais. É nesses grupos que são realizados os primeiros tratamentos, mais intensivos. Posteriormente, os responsáveis pelo centro promovem uma continuidade dos hábitos alimentares adquiridos no começo do processo, e estimulam um desvinculamento gradativo dos pacientes, de modo que eles possam colocar os novos hábitos em prática com mais independência.

Depois de nove meses de acompanhamento com profissionais, as pessoas são liberadas para que façam sozinhas a manutenção da alimentação saudável. Segundo as nutricionistas, manter os hábitos saudáveis e transformá-los em rotina é o mais difícil para os pacientes. “O que estamos fazendo é um trabalho bastante humano e pessoal, a médio e longo prazo. Nós queremos uma solução definitiva. Criamos um vínculo afetivo, e tentamos convencer os pacientes a espalharem os hábitos de alimentação saudável na família e no grupo de amigos. A pessoa precisa fazer isso espontaneamente”, explica Viviane.

“O CRNutri é um local em que o tratamento é bastante efetivo, pois conseguimos atender muitas pessoas e com qualidade, sem precisar de muito dinheiro”, completa Viviane. Nesse aspecto, o centro, estruturado em ambulatórios, promove um tratamento amplo e um atendimento rápido, sem longas filas de espera. Além de melhorar a alimentação das pessoas, o projeto vem colaborando com a formação dos alunos envolvidos e facilitando a realização de pesquisas na área da nutrição.

Trabalho com crianças
Devido ao fato de que o CRNutri é mais procurado por adultos e idosos, os responsáveis pelos centros decidiram expandi-lo, de modo que ele pudesse atender mais crianças e adolescentes. Sendo assim, o projeto foi implantado no Centro para a Criança e o Adolescente, localizado próximo à Igreja do Calvário, na Praça Benedito Calixto.

O acompanhamento com os jovens funciona como uma espécie de apoio nutricional e é realizado durante o tempo em que eles não estão na escola. As crianças recebem uma educação nutricional e aprendem sobre hábitos saudáveis e propriedades nutritivas dos alimentos. De acordo com Samantha, os profissionais que trabalham no local procuram promover atividades divertidas e educativas e distribuem folhetos informativos sobre a melhor forma de fazer uma refeição saudável. Merendeiros e educadores também recebem instruções em relação aos hábitos alimentares e sua transmissão aos jovens.