São Paulo (AUN - USP) - No fim de 2010 foi realizado o vestibular para o primeiro curso de graduação a distância da USP, o Curso Semipresencial de Licenciatura em Ciências. Alguns resultados já foram divulgados sobre os primeiros meses da experiência (veja matéria publicada pela AUN no dia 1º abril de 2011), mas muito ainda entra em discussão. Anne Scarinci, professora do Instituto de Física da USP, nos alerta sobre questões fundamentais da estrutura de tal modelo de curso.
“O que me desconcerta é que existem vários grupos de pesquisa sobre ensino de ciências [na Física, Química, Biologia e Educação], mas nenhum desses profissionais parece ter feito parte do time que montou o CLC”. Com a participação desses pesquisadores, que possuem um histórico de anos na área, poderia ter sido atribuído ao curso um eixo pedagógico mais claro sobre como as disciplinas ajudam na formação de um professor do ensino fundamental da rede pública. As disciplinas do curso se distribuem entre as de conteúdo conceitual e as de conteúdo pedagógico (“ensinar a ensinar”), mas é aceito mundialmente que essa dicotomia não funciona – por isso a importância de uma pesquisa precedente e de um eixo bem estruturado.
Uma vez consolidado o curso, um ponto que precisa merece muito cuidado é o trabalho do tutor. “Nenhum aprendizado é possível sem a interação do cursista com o professor, o conteúdo, com o ambiente virtual, com colegas cursistas e outros mais. E é o tutor que acompanha o aluno e conduz sua aprendizagem.” Desse modo, é possível uma dar uma perspectiva profissional mais sólida à metodologia empregada.
Também parece faltar ao curso a presença de um supervisor educacional, basicamente um coordenador pedagógico. É esta a função de Scarinci no curso da Redefor de Pós-Graduação em Física da Unicamp, totalmente à distância e com o objetivo de oferecer mais conteúdo da matéria a professores da rede pública. Tal supervisor desempenha o papel de ponte entre os profissionais e o cursista e o de orientar o tutor. É natural surgirem dificuldades deste com a comunicação virtual. Por exemplo, antes de responder uma dúvida, ela o orienta a entender a origem da pergunta, para eliminar ambiguidades e entender a real dificuldade, e a se mostrar afetuoso, comprometido e informal na escrita virtual para amenizar a solidão que o aluno usualmente sente frente à tela.
As diferenças entre a pós-graduação da Unicamp e a Licenciatura em Ciências da USP permitiram à Scarinci observar o que deve ser garantido no último. Como a Redefor não permite momentos síncronos, como chats e videoconferências, o pouco do que o curso teria de análogo ao presencial se perde. Já no CLC estão inseridas as aulas aos sábados, onde o aluno poderia aproveitar o aprendizado da docência pela vivência e, no caso de Física, uma conexão maior entre os teorias ensinados de Física e os fenômenos reais.
Além disso, não havia sido prevista a formação contínua dos tutores na Unicamp, problema contornado com encontros semanais de Anne com eles. Também falta uma maior utilização da tecnologia, de simulações e animações que auxiliem o entendimento dos alunos. “Outro desafio é o pedagógico, em que os organizadores precisam ser pró-ativos em relação a possíveis dificuldades conceituais comumente enfrentadas pelos alunos conforme o curso amadurece”.
Uma possível perspectiva futura é a de aproveitar idéias que estão dando certo no exterior. O Massachussetts Institute of Technology (MIT) oferece material aberto ao público com vídeo-aulas das próprias aulas que o professor ministra sendo, assim, possível observar não somente o conteúdo, como também o modo como ele é ensinado.
Além da pós-graduação em Campinas, Scarinci trabalha também com um curso à distância de aprofundamento em Astronomia da USP para professores do ensino básico de todo o país. Ainda em planejamento, a previsão é que o curso esteja aberto no próximo semestre.