ISSN 2359-5191

03/05/2011 - Ano: 44 - Edição Nº: 19 - Sociedade - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
Especialistas estrangeiros e brasileiros fazem releitura da história da arte e da arquitetura

São Paulo (AUN - USP) - Discutir sobre a circulação e interpretação de tratados e modelos de arte e da arquitetura durante a época colonial entre a Europa e a América Latina foi o principal objetivo do Seminário Internacional de História da Arquitetura e das Artes “Imagem e Modelo. Constituição e Recepção da Tradição Impressa nas Artes e na Arquitetura”. Organizado pelo Departamento de História da Arquitetura e Estética do Projeto da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP (FAU), o evento trouxe especialistas dos EUA, Itália, Reino Unido, Espanha e de vários estados brasileiros que se encontraram por três dias na faculdade para se aprofundarem em diversos aspectos da história da arte e da arquitetura.

“Não encaramos o estudo da história como saudosismo e não queremos nos concentrar apenas em estudos estilísticos, mas quebrar clichês e refletir sobre o significado da história na arte e na arquitetura do presente”, diz o professor e coordenador do evento, Luciano Migliaccio.

O estudo da recepção de modelos na arte e na arquitetura envolve escritos, reproduções ou ilustrações que são base para outros artistas se inspirarem em seus trabalhos. Porém, importar não significa apenas copiar os trabalhos estrangeiros, como por muito tempo se acreditou, mas utiliza-los de forma criativa, dando a eles novos significados adaptados ao contexto local. Muito foi discutido sobre como os artistas latinoamericanos se utilizaram desses modelos, não para deslegitimar a arte aqui criada, mas para valorizá-la.

Por exemplo, normalmente somente o Barroco vem à mente quando se pensa na arte e arquitetura do Brasil do século 18. No entanto, os professores Gauvin Bailey e Myriam Ribeiro de Oliveira demonstraram que não é possível pensar apenas nesse movimento, mas também em como o gosto e o pensamento da sociedade e do clero aderiram e se influenciaram pelas idéias e gostos do Rococó francês.

O professor Thomas Cummings, especialista em arte colonial latinoamericana de Harvard, deu outro exemplo de reinterpretação de modelos europeus por parte dos índios mexicanos. No século 16, eles presentearam o rei espanhol, Felipe II,com escudos decorados com pintura plumária (de penas de aves). Aproveitando modelos europeus mais essa técnica peculiar da tradição ameríndia, tais dons chamaram a atenção de intelectuais da corte espanhola, como Felipe Guevara, que incluiu esta forma de arte no seu tratado sobre a pintura.

Maurizio Ghelardi, da Scuola Normale Superiore di Pisa, mostrou o caso da viagem do historiador alemão Aby Warburg entre os índios Hopi, do interior dos EUA, em 1896. Lá ele observou como os índios se remetiam a formas mitológicas em seus rituais e constatou que era possível aplicar universalmente o conceito da cristalização de rituais na expressão artística, tanto na Grécia Antiga ou no Renascimento quanto entre os índios Hopi e qualquer outro mais – invertendo o problema do modelo: a cultura primitiva americana tornava-se agora o modelo para construir uma teoria da expressão artística para a história da arte na Europa.

A forma como os colonizadores ibéricos, em específico, influenciaram a arte da América Latina também foi discutida. Ramón Gutierrez, da Universidad de Buenos Aires e Murillo Marx e Beatriz Bueno Piccolotto, da FAU, destacaram uma peculiaridade brasileira: a tradição e influência portuguesa sobre o Brasil fez com que a arquitetura ficasse mais no âmbito dos saberes técnicos e da engenharia do que no artístico. A Espanha não favoreceu a criação de escolas deste tipo nos seus domínios americanos. Isto teve consequências também sobre a interpretação dos modelos, não sendo possível ignorar tais elementos específicos do Brasil no contexto da circulação de modelos no continente.

O seminário faz parte do Projeto Temático Fapesp “Plus Ultra. Transferência Cultural e Recepção da Tradição Clássica entre a Europa Mediterrânea e a América Latina”, que já realizou ano passado encontros internacionais com um tema similar, de menor porte e ambição. O evento na FAU representou, portanto, um passo adiante nas pesquisas no tema, estando também nessa tendência a recente compra por parte da Faculdade de uma coletânea de tratados e modelos de arquitetura e decoração procedente da Biblioteca de John Graz, importante designer de interiores do movimento modernista.

Um maior estudo nesse ramo histórico pode significar bastante também para o ensino atual aos futuros arquitetos. A história da arte e da arquitetura podem não apenas ser encaradas como repertório para projetos, mas observar até que ponto nos distanciamos dela e como podemos utilizá-la para discutir certos conceitos e considerar os modelos como forma de raciocínio.

Os planos futuros do Plus Ultra incluem outro encontro internacional em junho, sobre ilustração científica na Europa e América Latina e no final do ano sobre a importância política da fotografia na construção da imagem na América Latina.

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