São Paulo (AUN - USP) - Continuam sendo implementadas as medidas da nova estrutura curricular do curso de Odontologia da USP, que entrou em vigor no ano passado. As mudanças têm por objetivo formar um profissional mais flexível e integrado. Para isso, o novo projeto da clínica odontológica, que assume papel central nessa reestruturação, terá início no segundo semestre deste ano.
A professora Maria Ercília de Araújo, presidente da Comissão de Graduação da FO, esteve presente em todo esse processo de reformulação. Ela diz que, desde 2004, mudanças curriculares têm sido pensadas pela instituição, com base nas Diretrizes Nacionais Curriculares. A grade curricular deveria ser reestruturada para fortalecer requisitos necessários a um bom profissional da área de saúde, como capacidade de trabalho em equipe, boa comunicação e liderança.
Em 2005, foi criada pelo diretor da FO uma Comissão de Reestruturação Curricular, que reuniu chefes de Departamentos, professores e alunos, a fim de desenvolver as propostas iniciais de mudança. Em 2009, já com as medidas definidas, foram criados grupos de trabalho, buscando um entendimento conjunto e definindo a contribuição de cada área ao novo projeto.
Assim, em 2010, entra em vigor o novo currículo. Entretanto, as medidas estão sendo implementadas gradualmente: as do primeiro, segundo, terceiro e quarto semestre já vigoram, enquanto as do quinto e sexto semestres foram enviadas à reitoria para aprovação. Algumas resoluções: o curso integral passa de quatro anos e meio para cinco anos e algumas disciplinas passam a ser anuais. Um exemplo é a disciplina de Patologia Bucal, que tinha duração de um semestre, e agora passa a ser ministrada em três momentos diferentes ao longo do curso.
Uma das preocupações é aproximar a FO de outras faculdades da área de saúde, em um ensino multiprofissional. Assim, têm sido desenvolvidos projetos como o PET-Saúde e o Projeto Oeste, que reúnem alunos de Odontologia, Medicina, Enfermagem, Educação Física, Farmácia, Terapia Ocupacional, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Nutrição e Psicologia, para que participem de um serviço público, sejam tutorados e, principalmente, troquem experiências. “O primeiro intuito é cruzar informações entre os alunos. As unidades estão prontas para isso, os profissionais que lá estão já sabem que vão receber alunos e que, portanto, têm que dar conta da população e da necessidade de ensino. Assim, esses alunos vivenciam um modelo de serviço público que tem a chancela da Universidade de São Paulo”, diz Maria Ercília.
Além da parceria com outros institutos, uma das medidas mais importantes da reforma é a reestruturação da Clínica Odontológica, que deverá se tornar um eixo integrador de ensino, assumindo um caráter cada vez mais multidisciplinar. “A proposta da nova estrutura curricular é trabalhar muito bem essa clínica, só que um pouco mais integrada entre as diversas disciplinas, para mostrar ao aluno uma realidade mais concreta, seja para um serviço público ou para outros tipos de serviço”, aponta Maria Ercília, que também reforça a importância da realização das horas de estágio nesse processo.
Essa reestruturação tem por objetivo fazer com que os alunos se assumam como profissionais de saúde, flexíveis, que possam trabalhar em diversas frentes da área. A professora ressalta a importância de ir além da técnica, entendendo o paciente de forma mais integrada, assim como o contexto em que está vivendo: “Tudo isso tem como objetivo transformar o profissional em um profissional mais sensível à realidade da sociedade brasileira, fazer com que o ensino seja mais integrado, e não um quebra-cabeça que ele tenha que montar já no mercado de trabalho, para que a junção dessa série de conhecimento se dê ainda num momento de formação.”
Para isso, é necessário fornecer aos professores, segundo a docente, uma capacitação metodológica mais densa. Isso tem sido feito tanto pelo Pró-Saúde, um programa do Ministério da Saúde, como por meio da reitoria de graduação, que, ao longo dos anos, tem ministrado cursos de pedagogia universitária. “Nós somos contratados como professores porque somos bons técnicos ou bons pesquisadores, mas temos muito pouco embasamento metodológico de pedagogia”, diz Maria Ercília. “É necessário aprender a ser um condutor de conhecimento para o aluno, e não um despejador de conhecimento.”