São Paulo (AUN - USP) - Há um debate entre os estudiosos da psicologia se há diferenças entre autismo de alta funcionalidade e síndrome de Asperger, ambos incluidos no espectro autista. Elaine Zachi, pós-doutoranda pelo Departamento de Psicologia Experimental do Instituto de Psicologia (IP) da USP, faz um estudo com enfoque nesse assunto, sob supervisão da professora Dora Ventura, do Laboratório da Visão. O Laboratório estuda três vertentes relacionados à visão: psicofísica visual, eletrofisiologia visual e neuropsicologia.
Aqueles que defendem que essas duas deficiências configuram grupos separados apontam uma diferença quanto à linguagem. No caso do autismo de alta funcionalidade, há um atraso na linguagem que não se observa nos pacientes que sofrem da síndrome de Asperger. No entanto, aqueles que não consideram essa diferença argumentam que, se observamos a população em geral, existem crianças que têm atraso na linguagem e outras que não.
Dentro do espectro autista, as características mais comuns são dificuldade com sociabilidade e comunicação e interesses restritos. Ou seja, eles tendem a focar em aspectos específicos do que estão lidando e muitas vezes ignoram o conjunto mais amplo. Existem diversos motivos para o autismo, desde genéticos, como a alteração de cromossomos (embora não haja um gene específico) até perinatais e ambientais, como infecções e contaminação por chumbo.
O objetivo do estudo é examinar habilidades neuropsicológicas visoespaciais em pacientes de Asperger e autismo de alta funcionalidade e verificar se nesse quesito há alguma diferença. “Se existe uma diferença, pode ser que essa diferença não seja só na linguagem, eles podem ter outras habilidades diferentes também.”
A bateria de testes computadorizados que avalia essas habilidades inclui testes de inteligência, de atenção e de memória. Os resultados dos testes serão comparados entre três grupos com crianças de 6 a 15 anos, sendo um de controle, um com pacientes que possuem atraso na linguagem e outro com pacientes que não apresentam esse atraso, tendo todos inteligência normal ou superior à média. Os grupos não são separados em Asperger e autismo de alta funcionalidade justamente pela confusão do diagnóstico. “Queremos que o paciente já venha com o diagnóstico, mas o que a gente reparou é que esse debate se manifesta no próprio diagnóstico. Então eu recebia uma mãe que dizia que o filho tinha sido diagnosticado com a síndrome de Asperger, mas ele tinha dificuldade de linguagem.”
A dificuldade maior é encontrar pacientes que tenham essas características. “Nas instituições, o que mais se tem é o autismo clássico, que é aquele que tem um grau de retardo mental, que é o que não vai entrar na pesquisa. Estou em contato com o Genoma Humano, que já me passou uma lista, que não é muito grande, mas já ajuda; e também com o HC [Hospital das Clínicas].” Até agora, um paciente foi testado, e os resultados dos testes indicam latência para respostas em testes de memória visual, e dificuldades com memória operacional e flexibilidade, o que já se esperava, pelas dificuldades na organização, planejamento e categorização que esses pacientes tendem a apresentar.