ISSN 2359-5191

27/08/2003 - Ano: 36 - Edição Nº: 14 - Saúde - Faculdade de Medicina
Instituto do Coração analisa relações entre as deficiências cardíaca e renal

São Paulo (AUN - USP) - Pesquisa aprovada pela comissão de ética do Hospital das Clínicas e iniciada na primeira semana de agosto na Unidade de Terapia Intensiva do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP compara dois tipos de tratamento para pacientes que possuem disfunção renal prévia e desenvolvem o chamado baixo débito cardíaco – baixa taxa de bombeamento sangüíneo -, a fim de diminuir a disfunção renal: um tratamento agressivo e um conservador.

O tratamento agressivo baseia-se em monitorização invasiva agressiva nas primeiras horas da abordagem dos doentes, geralmente já no pronto-socorro. Checam-se os efeitos da síndrome de baixo débito de forma mais radical e em menores intervalos de tempo. “Catéteres são instalados em artérias (para medir pressão sanguínea), na uretra (para coletar dados precisos do fluxo urinário) e no pulmão (para medir a taxa de oxigenação do sangue). Além disso, é colocado um balão intra-aórtico, dispositivo que se enche de ar e ajuda o coração a bater mais forte, aumentando o débito cardíaco, que é de cinco litros por minuto para uma pessoa sã”, diz o médico Jaime Freitas Bastos, membro da equipe de terapia intensiva do Incor.

Já o tratamento conservador é feito de forma menos invasiva, tratando a síndrome de baixo débito de acordo com o aspecto clínico do doente, isto é, de acordo com os sintomas apresentados. Em ambos os casos, é necessário internar o paciente.

Tanto o baixo débito cardíaco (provocado por uma doença chamada disfunção ventricular esquerda) quanto a disfunção renal isolados, são situações terminais, que, uma vez diagnosticadas, dão pouco tempo de vida ao paciente. “Cerca de 70% das pessoas que apresentam insuficiência cardíaca em fases avançadas podem morrer em seis meses. A taxa de mortalidade de quem tem disfunção renal também é altíssima”, confirma o cardiologista.

O maior problema reside na associação da insuficiência renal com o baixo débito cardíaco. “O contexto geral é: temos um indivíduo com disfunção renal prévia, e então ele chega ao pronto socorro com síndrome baixo débito cardíaco. Quando os rins, que já estão doentes, receberem baixa quantidade de sangue eles vão piorar mais ainda e a curva de mortalidade aumenta exponencialmente. Essa interação é fatal, fazendo a taxa de mortalidade triplicar e até mesmo quadruplicar”, explica o doutor Jaime Bastos.

Segundo o cardiologista, acredita-se que com o tratamento conservador é provável que se reduza a mortalidade no cenário intra-hospitalar em 50%. No entanto, a pesquisa objetiva provar que o tratamento agressivo é de 25 a 30% superior ao conservador, isto é, promove uma redução adicional da disfunção renal da ordem de 30%.

“Para um país onde atualmente existem cerca de dois milhões de doentes cardíacos em tratamento e pelo fato de uma grande parcela da população mundial sofrer de disfunção renal, 30% de melhora significa muita coisa”, concluiu o cardiologista, pesquisador e médico preceptor do Incor, doutor Jaime Bastos.

A pesquisa
O estudo conta com a participação de cem pacientes. Atualmente eles estão em fase de randomização, isto é, estão sendo divididos em grupos. Cinquenta pessoas serão tratadas da maneira conservadora e as outras cinquenta da forma agressiva. Os critérios de inclusão são: ter entre 20 e 70 anos de idade e apresentar disfunção renal e disfunção ventricular esquerda compensada prévias.

O protocolo já foi aprovado pela comissão de ética do Hospital das Clínicas e o trabalho, que terá duração de 24 meses, é aberto e prospectivo, isto é, os pacientes serão acompanhados ao longo do tempo. O Instituto do Coração (Incor) é o único centro envolvido e a equipe médica responsável é formada por Sílvia Lage, Ricardo Tavares e Jaime Feitas Bastos.

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