ISSN 2359-5191

27/08/2003 - Ano: 36 - Edição Nº: 14 - Ciência e Tecnologia - Instituto de Pesquisas Energéticas
MCT pretende descentralizar a produção de radiofármacos

São Paulo (AUN - USP) - O ministro da Ciência e Tecnologia, Roberto Amaral, e o presidente da Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen), Odair Gonçalves, afirmaram que o governo federal pretende construir unidades produtoras de radiofármacos, elementos radioativos empregados no tratamento e diagnóstico de doenças, em outras cidades do país além de São Paulo. As declarações foram dadas durante a inauguração oficial das células de produção dos radiofármacos tálio-201, gálio-67, iodo-131 e gerador de tecnécio-99 via gel do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), na capital paulista.

Essas células (unidades produtoras) são parte do programa de nacionalização de radioisótopos, matérias-primas empregadas na produção de radiofármacos, e permitirão uma economia de até US$ 1,4 milhão por ano com a importação desses insumos quando todas elas estiverem em funcionamento.

Amaral ressaltou a importância do acontecimento para a comunidade científica nacional e para a saúde pública. “Estamos construindo aqui tecnologia própria”, disse. Sobre a possibilidade de haver produção de radiofármacos em outras cidades importantes do país, o ministro revelou a existência de planos para a construção de uma unidade produtora no Centro Regional de Ciências Nucleares (CRCN), em Recife (PE), além de estudos para a implementação de outras no Rio de Janeiro e no Sul do país.

De acordo com Gonçalves, também há planos de instalar uma unidade produtora no Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear (CDTN), em Belo Horizonte (MG). Segundo ele, esses investimentos seriam feitos em conjunto com o Ministério da Saúde, sendo priorizada a produção de radiofármacos de meia-vida muito baixa, os quais perdem sua capacidade radioativa muito rapidamente após sua produção e, conseqüentemente, sua eficácia no tratamento e diagnóstico de doenças, devendo, assim, serem fabricados próximo aos locais de consumo.

Gonçalves ainda diz que o principal problema para dar mais incentivo à área não é a falta de verbas, mas os mecanismos de financiamento da União, que não permitem que o dinheiro oriundo da comercialização dos radiofármacos seja imediatamente investido em novos equipamentos e instalações, primeiramente indo para o Tesouro Nacional e disponibilizado apenas no orçamento do ano seguinte. “Isso quando não há contingenciamento [de verbas]”, ressalta. Amaral, porém, disse que a área de Ciência e Tecnologia não sofrerá cortes num eventual contingenciamento por parte do governo federal.

Soberania e economia
João Alberto Osso Jr., pesquisador do Centro de Radiofarmácia, diz que, a partir do início das operações da célula de gerador de tecnécio-99 via gel, previsto para a segundo quinzena de outubro, será possível nacionalizar a produção de 5 à 12% da produção de molibdênio, radioisótopo empregado em sua produção, sendo possível atingir um índice de 20 à 40% num longo prazo. Atualmente, são gastos US$ 2 milhões anuais com a importação da matéria-prima.

Osso afirma que foi investido ao longo de seis anos, R$ 1 milhão apenas no desenvolvimento de uma tecnologia nacional para a fabricação de gerador de tecnécio-99 via gel. Nesse processo, não é necessário utilizar molibdênio oriundo da fissão do urânio, a qual, embora tenha vantagens sob o ponto de vista tecnológico, gera resíduos radioativos que exigem destino adequado.

A produção de gerador de tecnécio-99 via gel, porém, não foi idealizada por brasileiros. O primeiro país a conceber a idéia foi a Austrália, mas apenas a China, com a colaboração da Agência Internacional de Energia Atômica, desenvolveu o sistema, patenteando-o em seguida. O Brasil chegou a entrar em contato com os chineses para adquirir sua tecnologia. No entanto, o fato de que não haveria transferência de tecnologia e o alto valor da transação, US$ 1 milhão, fora os custos de implementação, fizeram com que os pesquisadores do Ipen buscassem uma alternativa própria.

O diferencial do sistema brasileiro do chinês é tecnologia empregada no preparo do gel, sendo também menos sujeito a falhas no nível radioativo do produto final, garantido eficácia maior no tratamento dos pacientes.

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