ISSN 2359-5191

19/05/2011 - Ano: 44 - Edição Nº: 30 - Ciência e Tecnologia - Instituto de Física
Diretor da Poli discute impacto de C&T no currículo das engenharias

São Paulo (AUN - USP) - No dia 14 de abril, o Instituto de Física da USP (IF) abrigou a palestra do Professor José Roberto Cardoso, diretor da Escola Politécnica da USP. Nela, Cardoso buscou rediscutir o currículo das faculdades de engenharia, com foco nos problemas que o aumento generalizado de especializações da carreira pode trazer.

Primeiramente, o professor explicou o processo de renovação curricular que se encontrava na Poli: as mudanças costumavam ocorrer de cinco em cinco anos, sendo que dois anos eram para efetivar a mudança. Contudo, a situação atual da Poli é outra, a estrutura curricular está em rigor desde 1999, ou seja, ela foi montada em 1997. “Nunca a Poli demorou tanto para mudar sua estrutura curricular”.

Em seguida, o professor deu um panorama da situação da engenharia no Brasil e para isso ele não poupou dados. O primeiro grande problema é a falta da mão-de-obra qualificada: há 180 mil vagas, sendo que temos apenas 150 mil ingressantes no curso de engenharia e, desses, apenas 30 mil concluintes. Um impacto visível desse desequilíbrio é a média do salário inicial do engenheiro: em 2006 era de R$ 1.500, em 2010, de R$ 4.500 e a estimativa é de que hoje seja por volta de R$ 5.600.

Outra idéia que Cardoso passou foi a de que é necessário melhorar o rendimento das escolas de engenharia: “Apenas 1 em cada 4 concluintes tem uma formação adequada”, o que significa menos de 10 mil por ano.

Um reflexo dessa falta de preparo é o número de patentes resultantes de pesquisa em engenharia. Com base em dados de 2007 tem-se o seguinte panorama: Brasil, 397 patentes, Rússia, 28 mil, China, 5.200 e Índia, 2.800. Não é nem um pouco inocente a escolha desses países para comparação, uma vez que são eles que compõe o Bric, grupo de países emergentes que possuem maior potencial na situação mundial.

Depois da visão geral sobre a engenharia no Brasil, o palestrante passou a apresentar a evolução histórica da carreira. Seu nascimento ocorreu no século 19 com as modalidades militar e civil, a partir da primeira metade do século 20 começou a multidisciplinaridade da carreira. Já nos anos 1950-1970 iniciou-se o processo de especializações, que dos anos 1970 em diante tornou-se excessivo. Fato decorrente desse excesso é o número assustador de especializações registradas hoje no CREA: 280.

Em contraponto, na Europa o número de especializações foi fixado em 20. Isso graças ao Acordo de Bolonha, que busca estabelecer uma Área Européia de Ensino Superior.

Voltando ao assunto da grade curricular, Cardoso disse que há duas grandes pressões que afetam a mudança curricular: a internacionalização e os problemas globais. Para resolver a necessidade de internacionalização do aluno de engenharia, o professor sugeriu um maior número de acordos internacionais, possibilitando um maior intercâmbio.

Quanto às pressões globais o professor as descriminou em 4: energia, sustentabilidade, água e saúde. “A pressão não é mais da indústria, agora é da sociedade”. A necessidade de o engenheiro atuar nessas áreas sugere que a mudança curricular seja feita na direção de diminuir as especializações e aumentar o ciclo básico do curso. “Num panorama em que ele [o engenheiro] vá viver até os 100 anos e se formando aos 22, ele provavelmente irá trabalhar por 50 anos. Portanto fazer cursos tão especializados é contraproducente”.

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