ISSN 2359-5191

03/06/2011 - Ano: 44 - Edição Nº: 40 - Educação - Instituto de Psicologia
O problema que a sociedade fingia não existir
Debate realizado na Universidade de São Paulo desmistifica o bullying ao discutir suas causas e possibilidades de solução

São Paulo (AUN - USP) - O recente episódio que chocou o país do massacre na escola de Realengo, Rio de Janeiro, reacendeu as discussões sobre a questão do bullying, termo utilizado para descrever atos de assédio e violência física ou psicológica, intencionais e repetidos, praticados por um indivíduo (do inglês, bully, o "valentão”), com o objetivo de intimidar ou agredir outro, que se mostra incapaz de se defender.

Algumas pessoas consideram o fenômeno uma “brincadeira de criança” e, por isso, é apenas uma fase da vida que um dia passará. Já para outros, é um tema que pode ter efeitos desastrosos, com danos psicológicos gravíssimos na vida das pessoas que o sofrem e a discussão desse problema se faz urgente.

Em face dessas polêmicas e opiniões diversas, o Laboratório de Estudos sobre a Morte do Instituto de Psicologia (IP) da Universidade de São Paulo (USP) promoveu, no último dia 18 de maio, o debate Bullying e morte: dilemas éticos. A mesa de debates foi composta pelas psicólogas Renata Plaza, docente da Faculdade Unida de Suzano (Unisuz), Gabriela Casellato, do Instituto 4 Estações de Psicologia e Elaine Alves, que coordenou a discussão e é membro do Laboratório de Estudos sobre a Morte.

A desmistificação do bullying
Com a frase “bullying é um tema interdisciplinar e, por isso, precisa que todas as áreas o discutam juntas”, a psicóloga Renata Plaza iniciou sua palestra justificando a atualidade do tema e a necessidade da discussão integrada do problema entre a Saúde Pública, a Psicologia, a Medicina e o Serviço social.

Durante a exposição, Renata procurou desmistificar todas as justificativas que tentam amenizar a questão dos assédios e que revelam como ainda há pouco conhecimento sobre o assunto: “Usa-se muito o argumento que o bullying é brincadeira, porém a definição da palavra ‘brincadeira’ exige que todos os envolvidos se divirtam, o que vemos que não acontece.”

A outra desculpa amplamente utilizada procura tratar o bullying apenas como uma fase momentânea da vida. Esse argumento cai por terra quando a psicologia considera esses assédios repetidos, uma maldade consciente. A psicóloga explica que todas as pessoas de um modo geral são agressivas. Porém, quando não se consegue aplicar toda essa agressividade, inerente ao ser humano, para vencer obstáculos da vida e para a prática de esportes, ela acaba sendo canalizada para a violência, que implica a destruição do outro. “As pessoas não nascem bullies, é necessário aproveitar positivamente a agressividade e a violência pode ser desconstruída”, observa.

Nos dois lados, a insegurança
A outra participante da mesa, Gabriela Caselatto, psicóloga clínica que trabalha há bastante tempo com a questão dos vínculos sociais no Instituto 4 Estações de Psicologia, também contribuiu com o debate ao considerar os dois, praticante e receptor do bullying, como vítimas de uma grande falta de segurança.

Para justificar sua opinião, a psicóloga valeu-se da Teoria do Apego, do psicanalista Bowlpy. Segundo essa teoria, o ser humano é visto como um animal que não consegue se desenvolver sem a presença de um adulto, ou seja, ele tem um grande potencial para se associar pelos laços afetivos, na busca de caminhos de segurança.

Quando a pessoa não consegue chegar a um equilíbrio e acaba desenvolvendo a insegurança, esta pode ser de dois tipos: “ambivalente”, quando a pessoa nunca tem certeza do amor do outro e para ela, amor e o ódio estão muito próximos ou a “evitativa”, quando a insegurança torna a pessoa muito controladora.

“Os dois são inseguros, o bullie é do tipo evitativo e a vítima é ambivalente”, observa Gabriela. “Por isso, se faz necessária a figura de um interditor capaz de regular as relações e promover segurança”.

O grande inimigo: o silêncio
O algoz do bullying vê na violência o caminho mais rápido para a inserção social e a vítima não tem auto-estima suficiente para enfrentá-lo. O silêncio incentiva a prática e a situação continuará a mesma se a “plateia” que assiste aos assédios continuar passiva, sem denunciar. Ambas as psicólogas concluíram o debate falando da necessidade da escola e, sobretudo, a família promoverem bases seguras e recursos morais para que a insegurança de ambas as partes diminua.

Numa época em que o bullying se faz ainda mais presente em vários locais, em razão do cyberbullying, o problema precisa ser detectado e o diálogo eficaz tem que ser promovido o quanto antes para prevenir os efeitos danosos.

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