São Paulo (AUN - USP) - No dia 28 de maio, ocorreu, na Faculdade de Odontologia, a 12ª edição do projeto Construindo Sorrisos, promovido pela Odonto Jr., em parceria com a FFO Fundecto (Fundação para o Desenvolvimento Científico e Tecnológico da Odontologia). Foram atendidas cerca de 70 crianças da comunidade São Remo, próxima à Cidade Universitária, zona oeste da Capital.
O projeto, criado há seis anos, visa promover saúde bucal para crianças e pré-adolescentes de comunidades carentes, por meio de palestras, brincadeiras educativas e atendimento odontológico. Nos últimos dois anos, o projeto alcançou a comunidade São Remo, através do Circo Escola – projeto da Prefeitura que oferece atividades complementares ao período escolar e ações socioeducativas com as famílias. Nesse período, foram realizados aproximadamente 600 atendimentos clínicos.
Os alunos que participam do Circo-Escola recebem uma carta contendo uma autorização, bem como uma ficha para dados pessoais. “No dia do projeto, as crianças já trazem as fichas pré-preenchidas. Isso facilita o nosso serviço depois, para o atendente já ver o histórico de cada criança”, diz a aluna Ester Mi Ryoung Lee, diretora de projetos da Odonto Jr.
As crianças chegam com os micro-ônibus da FO. Vão para a quadra esportiva, onde participam de uma série de atividades recreativas, sendo algumas delas relacionadas à questão de higiene bucal, a fim de conscientizá-las de uma maneira mais dinâmica e divertida. Nessa parte de recreação, a Odonto Jr. conta com a parceria da EEFE Jr., que ajuda a realizar tais atividades. Nesta edição, o projeto também contou com a participação de um grupo de teatro e dança, “Amiguinhos do Papai do Céu”, do qual participa Valéria Nádia Frederich, caloura da FO.
As crianças, então, são organizadas em pequenos grupos. Membros da Odonto Jr. levam esses grupos, sucessivamente, à Clínica da Fundecto, onde, primeiramente, passam por um atendimento clínico – tiram índice de cárie e de placa bacteriana, com uso de evidenciador – um corante que colore de rosa as regiões com alta concentração de placa bacteriana. A seguir, vão para a escovação assistida, monitorada por atendentes. Posteriormente, seguem para a aplicação de flúor, que é uma atividade de prevenção. Se, durante o exame clínico, o atendente vir que a criança precisa de uma maior intervenção, encaminha-a ao box ao lado, onde são realizados os tratamentos, com supervisão de professores, utilizando a técnica ART – Atraumatic Restorative Treatment (Tratamento Restaurador Atraumático), uma forma simplificada e menos invasiva de atendimento, porém muito eficaz. “Geralmente, tanto crianças como adultos têm medo de dentista, principalmente devido ao motorzinho. Mas a filosofia do ART é justamente não usar motor”, diz Ester. “Utilizamos instrumentos manuais, curetas, e removemos lesões de cárie, tecido amolecido. E, logo depois, utilizamos um material restaurador, o ionômero de vidro, que libera flúor e evita posteriores lesões de cárie.”
Algumas cirurgias podem ser realizadas, devido à parceria com a Licomf – Liga de Cirurgia Oral e Maxilo Facial, vinculada ao Centro Acadêmico XXV de Janeiro e ao Departamento de Cirurgia da FO. Casos mais graves são encaminhados ao Serviço de Atendimento Odontológico da Faculdade, para posterior tratamento. Após a aplicação de flúor, as crianças são liberadas para a quadra novamente. Após meia hora, recebem um lanche e voltam à comunidade no micro-ônibus que os trouxe.
Apesar da continuidade do trabalho com a comunidade, Ester reconhece que ainda há desafios a serem vencidos para que a evolução seja mais significativa. Ela aponta que a questão dos encaminhamentos para posterior atendimento na instituição é uma coisa recente. Porém, muitas vezes, as famílias não dão continuidade, seja por falta de interesse ou por priorizarem outras coisas, como, por exemplo, o tratamento médico. “Um fator que não podemos desconsiderar é a própria rotina que essas famílias, em geral, têm. Às vezes, é difícil convencer um pai ou uma mãe da relevância da continuidade desse tratamento, fazê-los trazer seus filhos em um dia de semana, às vezes no horário de serviço deles, para que seus filhos sejam atendidos aqui na Faculdade. Existe aí, talvez, um problema de prioridades”, diz Fernando Horita, presidente da Odonto Jr.
Entretanto, ele também aponta os resultados já conquistados: “De qualquer maneira, desde que começamos o projeto, deu pra notar que, cada vez menos, temos que intervir com uma intensidade maior. Aparentemente, esse trabalho de prevenção tem funcionado.” Ester completa: “Às vezes vemos, entre um projeto e outro, as mesmas carinhas, vamos acompanhando esse processo”, diz ela. “Você vê a evolução dessa criança. Às vezes ela vem aqui pela primeira vez com uma super lesão de cárie, aí, no outro ano, você vê que a condição geral dela melhorou bastante. Às vezes, ela até se lembra de você. É muito gratificante.”