São Paulo (AUN - USP) - Em palestra realizada no Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP, no mês de maio, o professor Gilberto Fernando Xavier, do Laboratório de Neurociência e Comportamento, falou sobre como a memória constrói a atenção e o inconsciente, e como isso pode ajudar no tratamento de pacientes com lesões no sistema nervoso.
O professor explicou como se dá a construção da memória, e a comparou com um circuito. Inicialmente, ele é muito simples, mas com o tempo e o aumento dos pontos que formam esse circuito e das associações que fazem entre si, se torna cada vez mais complexo. “Construção associativa é o que acontece no nosso sistema nervoso. Interpretamos coisas novas sob a ótica do que já conhecemos.”
Sabe-se que a memória influencia em como direcionamos nossa atenção e como recebemos estímulos novos, mas o professor defende que o caminho contrário também é possível - a orientação da atenção pode alterar a memória. Ou seja, é possível adquirir certas habilidades que envolvem memória implícita, como, por exemplo, ler invertidamente, sem um treinamento real, e só a partir do controle da atenção.
De acordo com Xavier, uma memória do tipo implícita é um circuito neural que controla ações que aprendemos por treinamento repetitivo, mas que com o tempo se tornam automatizadas e dificilmente esquecemos. Dois exemplos que o professor citou foram dirigir e nadar, que aprendemos inicialmente por etapas, mas logo nos acostumamos e o movimento se torna natural.
A orientação da atenção para adquirir conhecimento é importante para tratamento de acidentes que afetam partes do sistema nervoso. Segundo o professor, antes mesmo de o paciente ter condições físicas para desempenhar qualquer função, o tratamento neurológico é possível. “Quanto antes esse tratamento é iniciado, ainda que só imageticamente, maiores são os benefícios”, afirmou. “Quando o indivíduo tiver condições de se movimentar, o circuito neural já vai estar construído, facilitando sua recuperação.”