ISSN 2359-5191

10/06/2011 - Ano: 44 - Edição Nº: 45 - Economia e Política - Escola Politécnica
Empresário dá dicas para criar seu próprio negócio
Presidente de gigante da construção civil compartilhou suas experiências com alunos da Poli

São Paulo (AUN - USP) - Os alunos da Escola Politécnica acompanharam, na manhã do dia 2 de junho, uma palestra de Hugo Marques da Rosa, presidente da Método Engenharia, empresa do ramo da construção civil. A palestra fez parte da 20ª Semana de Cultura Empresarial, promovida pela empresa júnior da escola, a Poli Jr., e abordou o tema “Começando uma empresa do zero”.

Ao longo de sua palestra, Hugo fez questão de apresentar um panorama detalhado da situação política e econômica do Brasil ao longo do crescimento da Método, fundada em 1973. A empresa acompanhou o crescimento econômico dos anos 70, resistiu à década perdida e atualmente é uma das maiores do setor da construção civil.

Logo no início do evento, o empresário fez questão de destacar a grande diferença entre ser dono da empresa ou trabalhar para alguém: “Na empresa dos outros, alguém paga pelos seus erros. Na empresa nova, o erro é responsabilidade sua, mas, assim, você aprende mais”. Para quem deseja começar agora, Hugo ressaltou a importância de buscar nichos pouco explorados, pesquisar bem o mercado e dimensionar o capital necessário.

A vida na faculdade
Hugo Marques é gaúcho e veio a São Paulo no fim da década de 60 acompanhar um amigo que prestaria vestibular para a Poli. Decidiu fazer a prova e, ao receber a notícia da aprovação, deixou a faculdade de engenharia no Rio Grande do Sul e mudou-se para a capital paulista. Como a renda da família era proveniente da pensão, deixada pelo pai já falecido, não tinha condições de alugar um apartamento e também não conseguiu vagas no Crusp, o alojamento de alunos da USP. Hugo conta, com bom humor, que acreditava que “a seleção dos alunos do Crusp privilegiava quem já era daqui. Acho que eles pensavam que quem veio de fora, veio porque tinha dinheiro e condições de se estabelecer”.

Após ocupar um prédio abandonado com alguns amigos e depois negociar o aumento do número de alunos permitido em cada unidade do Crusp, Hugo participou do movimento estudantil, muito forte na época. “Aquele era um momento importante, havia um forte movimento de liberação que se refletia em vários aspectos, até na música”, recorda o empresário. O período foi importante pois deu-lhe uma visão política que se refletiu nos empreendimentos futuros.

“Passei muito tempo da minha vida vivendo com zero”, contou Hugo, que andava a pé antes de conseguir um carro. Contudo, com o Ato Institucional Nº 5 e o fechamento do Crusp, precisava de dinheiro e decidiu abrir uma empresa. Uniu-se a dois amigos, entre eles o futuro presidente do Banco Central e graduando em engenharia civil, Henrique Meirelles, e fundou a Diagrama, uma empresa de blocos de concreto localizada em Diadema.

Criando e nutrindo a primeira empresa
Hugo vendeu seu Corcel, comprou um Fusca e usou a diferença para criar a empresa. As máquinas que foram alugadas estavam em condições tão precárias que o dono deu-lhes uma grande carência caso elas fossem consertadas. O terreno também foi negociado, com a carência extendida devido à terraplanagem que os sócios fizeram. O grande investimento, portanto, foi a compra de tábuas de madeira, indispensáveis à produção dos blocos, compradas a prazo.

Um dos primeiros desafios encontrados por Hugo foi a burocracia em que esbarrou no momento do primeiro pagamento. Hugo foi ao cliente esperando receber o cheque mas foi informado de que precisava de uma fatura e uma duplicata, cuja função ele veio a compreender alguns anos depois. “Isso me deu uma dimensão da minha ignorância em práticas comerciais”, contou.

Hugo aprendeu outra importante lição quando o prazo para pagar as tábuas estava perto do fim. Ciente de que não conseguiria pagá-las a tempo, procurou o credor e avisou-lhe que não conseguiria pagar pois ainda não havia conseguido o dinheiro necessário. Surpreso com a honestidade de Hugo, o responsável pela venda das tábuas deu-lhe o tempo que fosse necessário para realizar o pagamento. “Quando você se antecipa aos problemas, as coisas costumam dar certo”, disse Hugo.

Um dos maiores desafios da Diagrama foi lidar com a concorrência. No caso do mercado de blocos de concreto, pequenos clientes eram atendidos pelo dono da fábrica em frente, que dispunha de um caminhão próprio e realizava as entregas rapidamente. Já o mercado de grandes clientes era dominado pela Camargo Corrêa, que tinha uma fábrica própria e fornecia os blocos em grandes obras. A solução de Hugo foi agregar valor ao seu produto: em vez de apenas fabricar blocos, passou a construir muros.

A época foi muito benéfica para a Diagrama, pois a prefeitura da cidade havia promulgado a lei que obriga proprietários a murarem seus terrenos baldios. Hugo tinha um contato na prefeitura e sabia, de antemão, quem seria advertido sobre a falta de muro. Assim, tão logo o aviso era enviado, Hugo fazia contato e conseguia o cliente.

Com o tempo, a Diagrama passou a construir casas populares e prestar serviços de consultoria. Em um desses casos, Hugo se viu diante de uma empresa em concordata, prestes a falir. Conseguiu reverter a situação e comprou os créditos da dívida da empresa, que foram essenciais para fundar a Método.

O surgimento do gigante
Com a economia aquecida e os governos contratando várias empresas para a construção de moradias, Hugo decidiu investir de vez na construção civil. Desfez a Diagrama e fundou uma empresa que desde o início já deveria ter tradição, pois, de acordo com Hugo, “a construção civil é muito conservadora”. Por isso, pensou em um nome simples, que refletisse os ideais da empresa e fosse de fácil assimilação. Ao definir para o logo uma tipografia muito similar à dos jornais, Hugo pretendia dar-lhe um visual familiar, como se o cliente já tivesse visto aquela empresa milhares de vezes. Nascia assim, em 1973, a Método.

Hugo contou que “a construção civil era um fóssil vivo, lembrava muitos as corporações de ofício da Idade Média”. Isso explica o uso até hoje de nomes como oficial, meio-oficial e mestre de obras. O empresário, ciente da ineficiência desse sistema, aplicava nas obras uma relação de trabalho mais civilizada. A Método destacava-se também por utilizar métodos da indústria na construção civil, aplicados devido à formação de Hugo em engenharia de produção.

A empresa de Hugo foi pioneira no uso do marketing, produzindo um dos primeiros jornais empresariais da cidade, o Hora Prêmio. A publicação era baseada no Notícias Populares, periódico de extrema popularidade na época, o que atraía a atenção dos funcionários e disseminava o hábito de leitura.

Uma das grandes inovações da Método foi a criação de uma linha de produção de casas populares, construídas a partir de chapas de ferro-cimento com revestimento térmico e sonoro. As casas eram montadas em até três dias e, de acordo com Hugo, uma delas foi mantida na sede da empresa por 30 anos sem sofrer nenhuma avaria estrutural. Contudo, a ideia não foi bem aceita pelo grande cliente da Método, o governo, que preferia criar mais empregos e levar anos construindo uma casa a um eficiente sistema que poupasse mão de obra.

Com o início do ajuste fiscal do governo, em 1982, as obras públicas de todo o país foram paralisadas e houve uma queda de mais de 80% do faturamento em apenas um ano. Hugo lembrou de um caso em que um governante prestes a deixar o cargo inaugurou a primeira fase de uma obra inacabada e, no dia seguinte, um fiscal avisou que a obra deveria ser imediatamente suspensa, resultando na demissão de 1.700 empregados. “O governo não é cliente sério, não dá para trabalhar com o governo no Brasil”, disse Hugo, que desde então trabalha apenas com clientes privados.

O mercado privado exigia da Método um padrão de qualidade superior, aliado a preços competitivos. Para Hugo, o sucesso se apoia no tripé gestão, RH e tecnologia. Hugo eliminou “processos burros”, aprendeu no exterior e batalhou, por exemplo, para quebrar a resistência cultural do brasileiro ao dry-wall, tipo de parede pré-fabricada que diminui muito os custos da obra. O treinamento e capacitação dos funcionários, desde a alfabetização até cursos de leitura de plantas para os mestres de obra, também foram decisivos para garantir a sobrevivência e o sucesso da empresa.

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