São Paulo (AUN - USP) - Há pouco mais de uma semana, foi aberta, no Instituto de Estudos Brasileiro (IEB), a exposição Portinari. Ela comemora o centenário de nascimento do pintor paulista com uma boa diversidade de obras, cartas e documentos, todas pertencentes a coleção particular de Mario de Andrade. Esse detalhe dá um colorido diferente a exposição, que mais do que um artista, mostra um diálogo entre duas das mentes mais criativas e influentes do último século. Intercalando aspectos da vida particular dos artistas e de suas relações com as obras expostas, a exibição prende o expectador, contando um pouco das histórias por trás de cada quadro, afresco, gravura...
Cortando o concreto
Mario de Andrade, em uma de suas visitas à casa de Cândido Potinari ficou encantado com dois afrescos do artista (pinturas feitas em parede) e os pediu para sua coleção. Um desses dois pedaços do muro de Portinari, o afresco O Índio, esta na exposição, ao lado de uma carta de Mário referente ao assunto: “Ah! Já ia me esquecendo, no corte dos meus dois afrescos, a Mão e o Índio, si for possível mande separar um do outro. Já estou sonhando onde os colocarei...”(Carta de Mario a Portinari, 31 de maio de 1938).
Outro exemplo desse diálogo está na justaposição de quadros de Portinari com fotos da casa de Mário. A pintura A colona, por exemplo, pode tanto ser vista “ao vivo” pelo visitante quanto em seu “habitat original”, a sala do autor de Macunaíma.
Duas faces
Dentre as cartas do poeta presentes na exposição uma se destaca. Enviada para um amigo, o poeta Manuel Bandeira, ela expõe um pouco da experiência que era posar para Portinari. Ao lado está o resultado, o retrato de Mário pelo pintor paulista.
Esse quadro é assunto de outra carta, essa endereçada ao próprio pintor, na qual o poeta comenta as diferenças entre esse e o seu retrato feito por Segall. Para o escritor cada um mostra uma de suas faces: Portinari apresenta o seu lado bom, angelical, enquanto que Segall expôs seu lado demoníaco, que o poeta tentava vencer. Um visitante curioso pode fazer a sua própria interpretação, já que o retrato feito por Segall está na exposição permanente da Coleção Mario de Andrade, a poucos metros do retrato “angelical”.
Os interessados não devem perder tempo. A exposição é de curta duração, até o dia 17 de outubro, estando aberta ao público de segunda a sexta, das 14 às 17h. O IEB fica no nº 140 da travessa oito da Av. Prof. Mello Moraes, na Cidade Universitária. Telefone para maiores informações: (11)3091-3247.