ISSN 2359-5191

14/06/2011 - Ano: 44 - Edição Nº: 47 - Ciência e Tecnologia - Faculdade de Odontologia
Professor da Unesp apresenta, na XVIII Reunião de Pesquisa da FO, passos importantes para se redigir um bom artigo científico

São Paulo (AUN - USP) - Independentemente da área de conhecimento, grande parte dos acadêmicos se depara com um desafio em comum: a redação científica, que tem o papel de funcionar como ponte entre a pesquisa e a sociedade. Como então redigir um bom artigo científico? Gilson Volpato, professor da Unesp-Botucatu, discorreu sobre o assunto, ministrando uma palestra no dia 17 de maio, durante o primeiro dia da XVIII Reunião de Pesquisa e do XV Seminário de Iniciação Científica da FO.

Para Volpato, redigir um bom artigo é tão importante quanto fazer uma boa pesquisa. Ela deve apresentar novidade nas conclusões, metodologia robusta (técnicas, desenho experimental, número de réplicas, entre outros) e resultados evidentes. “Ideias que são realmente boas funcionam na prática. Bola na trave não é gol”, aponta o professor, ao falar sobre alunos que insistem em publicar uma pesquisa sem resultados relevantes, por alegarem se tratar de uma suposta boa idéia, mesmo que sem conclusões claras. Além disso, a apresentação deve ser impecável, ou seja: o trabalho precisa estar bem montado, coeso, articulado, seguindo uma sequência lógica.

O desafio torna-se ainda mais significativo quando o objetivo é a publicação internacional, que implica uma série de requisitos. Em um panorama geral, o Brasil não é um dos países com tradição científica. Apesar de seu notável crescimento em pesquisa no cenário mundial, ainda fica muito aquém dos países desenvolvidos. “Já que não temos tradição nem pedigree, precisamos ter qualidade”, destaca Volpato.

Dados científicos como base
Em um trabalho científico, é indispensável que haja evidências, resultados concretos. “Por trás de cada dado, de cada idéia, há uma base empírica”, diz Volpato. Entretanto, o professor ressalta que, apesar de as conclusões deverem ser baseadas nos resultados, não devem ficar restritos a eles. Os resultados devem orientar a pesquisa, porém não aprisioná-la. Volpato aconselha a “enfatizar aquilo que está construindo o seu discurso”, pois, para ler os dados, inclusive em relação à literatura utilizada como apoio, cada um se vale de seus próprios paradigmas. Daí mais um conselho do professor: utilizar a forma pessoal – “Eu concluo”, “Eu penso”... Pois, ao utilizar a forma impessoal, parte-se do princípio de que aquilo é verdade indiscutível, não sendo passível de interpretação ou de um outro olhar – o que não procede. Volpato aponta que o número de revistas que aceitam o formato pessoal tem crescido significativamente.

Utilize o elevador
Afinal, por que a redação científica é um grande desafio? Volpato diz: “Você precisa da publicação para ser ouvido, porém também procura respeitabilidade, abrangência e aceitação de suas conclusões. Publicar um trabalho é publicar conhecimento com a sua assinatura.” Assim, não só a qualidade do artigo é decisiva para sua repercussão, mas a qualidade do veículo em que é divulgado.

Volpato é categórico: você deve mirar longe, ou seja, nos periódicos melhores, de maior impacto. “Tem gente que escolhe publicar em veículos menores para depois atingir o periódico que deseja. Isso é usar escada. Eu defendo o uso do elevador: mire logo onde deseja chegar!” Para o professor, revistas menores contêm alguns equívocos conceituais, ou até mesmo critérios flexíveis, que irão prejudicá-lo quando você finalmente atingir os “peixes grandes”. Por isso, ele defende tentar publicar já no seu periódico-alvo. Há a possibilidade de rejeição? Há. Mas, segundo o professor, com isso você aprende e vai aprimorando seu trabalho até ele se encaixar no perfil da revista almejada.

Nessa lógica, Volpato aconselha a, antes mesmo de escolher o projeto de pesquisa, escolher o veículo no qual se deseja publicar. A partir daí, deve-se examinar artigos desse periódico, não de autores ou países consagrados, mas de países em desenvolvimento, dos quais muitas vezes cobra-se mais e com mais rigidez do que em países desenvolvidos. Deve-se avaliar também a novidade do objetivo do estudo, bem como a qualidade metodológica (uso de técnicas e repetições). Feito esse estudo, deve-se selecionar um projeto compatível. “Eu planejo onde quero estar e agora traço um caminho para chegar lá. É o mínimo de administração que um cientista precisa ter!”.

Volpato também aborda um tema polêmico: publicar ou não em revistas nacionais? Para ele, deve-se almejar apenas revistas internacionais de grande porte. Ele comenta que muitos defendem a publicação em revistas do próprio País a fim de enaltecê-lo e valorizá-lo. Mas o professor afirma justamente o contrário: “Você quer valorizar seu país de verdade? Publique em uma revista do exterior! Aí, sim, você estará enaltecendo seu país!”.

O docente aponta que está havendo uma mudança radical no processo de avaliação da qualidade e produtividade de um acadêmico. Anteriormente, valorizava-se a força bruta, ou seja, o número de artigos publicados. Esse foco agora migra para a eficácia científica. Isso pode ser medido dividindo-se a quantidade de citações (uso pela comunidade) pelo número total de artigos, por exemplo. Assim, verificam-se outros fatores, como o impacto, o alcance e a relevância do trabalho, em detrimento de mera quantidade, muitas vezes obtida sem muitos critérios.

Antes de mais nada, o fim
De nada adianta uma boa pesquisa que não é clara. “O cientista precisa saber comunicar, afinal, estamos na era da comunicação”, lembra Volpato.

Assim, a base da construção de um bom texto é utilizar-se de argumentos lógicos, ou seja: de premissas e conclusões. É importante conhecer a lógica de um texto científico, seguindo a sequencia de redação: Justificativa (Introdução) – Ideia – Métodos – Resultados – Comparação (Conclusão). Volpato ressalta a importância de idéias relevantes e fundamentadas, pois não há como fazer um texto bom sobre um trabalho que não se sustente. “Maquiagem é legal, mas tem que ter genética boa”, brinca. Assim, é necessário estruturar o pensamento científico, através de perguntas e respostas, premissas e conclusões. “Entendendo esse processo, você constrói um texto à altura.”

O professor aconselha a, antes de escrever, apresentar um resumo da pesquisa oralmente, várias vezes, a outros colegas ou até mesmo a parentes e amigos. Ele aponta que, dessa maneira, você vai organizando não só a própria pesquisa, mas sua sequencia e estrutura. “Antes de fazer sentido no papel, tem que fazer sentido na sua própria cabeça.” Quando tal exposição tornar-se algo simples e claro, que você domine totalmente, é hora de escrever. Por onde começar? Volpato propõe a lógica inversa: “comece sempre pela conclusão”. Ele aconselha a escrever e reescrever a conclusão e, após aprimorá-la, deixá-la escrita em um papel sempre ao seu lado, durante todo o processo de redação. “Teve dúvida? Volte para ela!”, diz Volpato. Segundo ele, a conclusão deve guiá-lo pelo resto do trabalho, definindo o que é ou não relevante para a pesquisa, primando pela objetividade. Após redigir a conclusão, é hora de redigir os resultados. Quais? Somente aqueles que te levaram àquelas conclusões já descritas. Depois, os métodos utilizados. Todos? Não, somente os que te levaram àqueles resultados já descritos. Nesse mecanismo inverso, são eliminados excessos e distrações no trabalho, mantendo o objetivo latente o tempo todo, já que, muitas vezes, durante a pesquisa, descobrem-se coisas interessantes, mas que fogem do foco escolhido, tornando-se ruído ou mero “floreio”.

Volpato atenta para o uso de muitas tabelas e gráficos, que comumente são utilizados sem nenhum propósito efetivo no trabalho, apenas para supostamente conferir um aspecto mais científico, com a apresentação de dados. É necessário ser mais criterioso, seja com texto ou com imagens, priorizando clareza em detrimento de tamanho. “Quando você tem a noção do todo, seu texto não sai desproporcional. Quanto mais você sabe a estrutura lógica do artigo, mais você consegue mexer nele, e melhor ele fica”, diz ele.

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