ISSN 2359-5191

17/06/2011 - Ano: 44 - Edição Nº: 50 - Educação - Instituto de Psicologia
Segundo pesquisa, para a maioria dos egressos da psicologia, área clínica ainda é a preferida
A visão limitada das possibilidades de atuação vem da formação pouco crítica, aponta pesquisadora

São Paulo (AUN - USP) - Os psicólogos também têm dilemas e um deles é a escolha da área de atuação assim que a graduação é concluída. Apesar das várias possibilidades de ingressar no mercado de trabalho, questões financeiras e de formação vêm limitando significativamente o horizonte de atuação.

A pesquisadora do Instituto de Psicologia (IP) da Universidade de São Paulo (USP) Alacir Villa Valle Cruces realizou uma ampla análise para identificar o destino ao qual decidem rumar a maioria dos profissionais da psicologia no período de inserção profissional, que resultou em sua tese de doutorado Egressos de cursos de psicologia: preferências, especializações, oportunidades de trabalho e atuação na área educacional.

Para a realização da pesquisa, participaram 765 concluintes de 32 cursos de psicologia do país, os quais responderam a um primeiro questionário nas próprias faculdades onde concluíam a graduação. Em seguida, participaram de três outras etapas, distribuídas ao longo de aproximadamente dois anos e meio, para as quais outros questionários foram preparados e enviados por correio ou email.

Compromisso social x status
A análise dos resultados da pesquisa mostrou que a área clínica ainda continua sendo idealizada pela maioria dos recém-formados. Segundo a pesquisadora, “os egressos acreditam que por meio dela poderão conseguir status e retorno equivalente ao dos médicos.” Alacir atribui a principal causa dessa preferência à formação do psicólogo em geral nas universidades, que é bem pouco crítica: “As pessoas não estão sendo preparadas para avaliar a realidade e pensar sobre o compromisso social da profissão.”

Por outro lado, chama também a atenção na pesquisa que nenhum dos alunos entrevistados disse ter a pretensão de trabalhar na área do trânsito, que é uma área estabelecida legalmente, já que todos os que tiram carteira de habilitação devem passar por avaliação psicológica. A pesquisadora novamente atribui esse resultado às questões de graduação: “Não havia em nenhum dos cursos de psicologia avaliados uma disciplina ou estágio nessa área, o que leva os estudantes ou os recém-formados a não se sentirem preparados para desempenhar essa atividade.”

A continuação da formação
A análise dos resultados revelou que a formação pouco crítica desses profissionais levou-os a atribuírem as dificuldades de inserção no mercado de trabalho a si mesmos e não à precária formação que tiveram.

Nessa concepção, explica Alacir, os egressos acreditam que fazendo mais cursos terão sucesso e poderão conquistar mais conteúdo, “o que ‘magicamente’ lhes trará mais clientes, por isso, realizam uma série de cursos, contentando-se em viver precariamente”, completa.

A realidade, porém, mostra que a competitividade do mercado atual, as dificuldades financeiras e o valor moderado que as pessoas dão à psicoterapia faz com que os clientes não se mantenham nos consultórios, trazendo insatisfação à maioria dos egressos participantes da pesquisa, já que queriam se manter apenas com o trabalho em consultório particular.

Novamente tratando da questão da formação universitária, que se faz voltada para a cura no atendimento individual, nota-se que ela leva a maioria dos recém-formados a não verem outros mercados de trabalho que lhes satisfaçam que não seja o consultório particular.

O mercado de trabalho para o psicólogo vem se ampliando, mas, ao mesmo tempo, o número de formandos também. Nesse sentido, explica a pesquisadora, manter-se apenas com a renda de consultórios particulares é condição cada vez mais rara.

A fronteira entre a cura e a prevenção
Grande parte dos participantes da pesquisa se inseriu na área clínica ou na da saúde e uma quantidade muito menor nas organizações de trabalho ou nas instituições educacionais. Observa-se que, na área da educação, as vagas são poucas. Não há, por exemplo, uma política pública que insira o psicólogo na rede pública estadual de São Paulo.

Alacir explica que esse fato pode ser analisado por uma série de dados que começam com a história das inter-relações entre as áreas da psicologia e da educação ao longo do desenvolvimento de nosso país, mas, principalmente, pela própria atuação dos psicólogos que sempre foi muito mais clínica e curativa do que preventiva e institucional, o que fez com que os profissionais preferencialmente fossem instalados na saúde, em detrimento à educação.

A pesquisadora frisa que esse e muitos outros estudos mostram a importância da formação para a inserção no mercado de trabalho. “É a qualidade do curso e a possibilidade que ele traz de o psicólogo conhecer a realidade que o cerca que permitirá inserção e atuação qualificada e eficaz.”

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