ISSN 2359-5191

20/06/2011 - Ano: 44 - Edição Nº: 51 - Ciência e Tecnologia - Instituto de Pesquisas Energéticas
Ipen fornece produtos que auxiliam diagnóstico e terapia de doenças
Diretoria de Radiofármacos abastece 360 clínicas em todo o país

São Paulo (AUN - USP) - A Diretoria de Radiofármacos (Dirf) do Ipen (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares) tem como objetivo fornecer radioisótopos e radiofármacos utilizados para diagnóstico ou terapia de diversas doenças. Segundo João Osso, gerente de pesquisa, desenvolvimento e inovação da Dirf, o Ipen é responsável pela distribuição de 97% dos radiofármacos utilizados no Brasil. Ao todo, são abastecidas 360 clínicas credenciadas pela CNEN (Comissão Nacional de Energia Nuclear) em todo o país. A produção da radiofármacos brasileira foi iniciada em 1959, com a produção de Iodo-131, que é utilizado tanto no diagnóstico quanto no tratamento de problemas na tireóide.

Ao todo, a Dirf fabrica 38 produtos. A grande maioria é radiofármacos, mas existem também kits chamados conjuntos reativos liofilizados (desidratados). Eles não são radioativos, mas são utilizados para marcação com Tecnécio-99m, o radioisótopo mais utilizado para diagnóstico em todo mundo e também o mais procurado pelas clínicas brasileiras. São produzidos ao todo 15 tipos de kits de reagentes liofilizados, um para cada parte do corpo humano.

Tecnécio-99m
Para suprir a demanda por Tecnécio-99m, utilizado na tomografia computadorizada por emissão de fóton único (SPECT), o Ipen produz um sistema chamado gerador de tecnécio-99m. O Tecnécio-99m possui meia-vida (tempo necessário para o decaimento da massa pela metade) curta. Se fossem produzidas e enviadas para todo o país moléculas já marcadas, a utilização dos radiofármacos seria limitado. Por isso, é empregado o Molibdênio-99, importado do Canadá, da África do Sul ou da Argentina, que origina o Tecnécio-99m. A meia-vida do Molibdênio-99 é de três dias e com ele é feito um sistema que pode ser montado na própria clínica e que garante o estoque de Tecnécio-99m a partir de um processo chamado eluição. “Conecta-se uma coluna de óxido de alumínio com Molibdênio-99 a duas agulhas: em uma delas conecta-se um frasco contendo uma solução salínica e na outra um frasco a vácuo. O vácuo vai puxar a solução salínica que, ao passar pela coluna de óxido de alumínio, faz o Molibdênio-99 decair para Tecnécio-99m. Ao final do processo o Tecnécio é coletado no frasco que estava inicialmente a vácuo. O médico pode ter esse produto em prateleira por uma semana ou mais”, afirma Osso.

O pesquisador explica que, junto com o gerador de tecnécio-99m, as clínicas recebem os já citados reagentes liofilizados, que são pastilhas dentro de frascos. O médico escolhe o conjunto certo, pega o volume adequado da solução de tecnécio, a adiciona ao frasco e dissolve a pastilha. Só então o produto está pronto para ser utilizado em pacientes. “É o nosso único produto que tem essa particularidade. Todos os outros já vão prontos para serem injetados no paciente”, afirma.

Tipos de pesquisas
João Osso divide as pesquisas de desenvolvimento de novos produtos em três grupos. O primeiro é o da produção do radioisótopo primário. “Por exemplo, o Cobre-64, utilizado em tomografias por emissão de pósitrons (PET), é produzido em um cíclotron [acelerador de partículas] a partir da irradiação do Níquel. Só depois disso o Cobre-64 é utilizado para marcação de moléculas. A função desse primeiro grupo é produzir esse elemento”, explica.

O segundo grupo é o de desenvolvimento de geradores. Um exemplo já citado é o gerador de Tecnécio-99m a partir de Molibdênio-99, mas existem vários outros tipos. Um outro exemplo é o gerador de Gálio-68 a partir de Germânio-68. “Esse Gálio é utilizado na técnica PET e possui meia-vida de 60 minutos. Portanto, deve ser utilizado um gerador para produzi-lo na própria clínica”, afirma Osso.

Por fim, o terceiro grupo é o de pesquisa em marcações de moléculas com emissores de pósitrons. Para Osso, uma linha importante é o desenvolvimento de novas moléculas para serem marcadas com Tecnécio-99m e utilizadas em diagnósticos. Existe também a marcação de moléculas para terapia, mais notadamente no tratamento de tumores. “Estamos com projetos para marcação de anticorpos ou peptídeos que são específicos para tratar determinados tumores”, diz.

Segundo o pesquisador, existe ainda o desenvolvimento de micro-esferas contendo Hólmio-166 ou Ítrio-99. Elas seriam usadas para o tratamento de câncer de fígado. “É para terapia, mas é diferente da marcação de moléculas”, ressalta.

Problema com recursos humanos
Para Osso, o principal problema da área é a escassez de recursos humanos. Por ser ligado a um órgão federal, a CNEN (Comissão Nacional de Energia Nuclear), o Ipen só contrata através de concursos, que não são freqüentes e muitas vezes não oferecem o número de vagas necessário para suprir as necessidades do Instituto. “Provavelmente no futuro haverá um gap [lacuna] de conhecimento ou talvez até a descontinuidade de algumas atividades do Ipen e da própria CNEN. É uma pena que, entre outros, o nosso serviço, que abastece 360 clínicas em todo o país e propicia 1 milhão de procedimentos por ano, corra esse risco”, lamenta.

Enquanto isso, boa parte das atividades são feitas por bolsistas, estagiários e alunos. “Nós formamos uma série de pessoas que não podem ser aproveitadas [por nós]. Tentamos segurar os melhores com bolsas como a do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos), ambos ligados ao Ministério da Ciência e Tecnologia, mas todas elas têm prazo limitado. E para o aluno, ser bolsista por 10, 15 anos é interessante, mas por outro lado os deixa sem proteção [trabalhista].”

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