São Paulo (AUN - USP) - No dia 9 de junho, o Instituto de Psicologia da USP (IP) abrigou a mesa-redonda com o tema: Violência e Suicídio no Trabalho. Dela participaram os professores Maria Inês Assumpção Fernandes, do IP, Andréia de Conto Garbin, da Unicsul, e José Roberto Montes Heloani, da Unicamp. Cada docente teve uma apresentação de 30 minutos e ao término das palestras abriu-se a mesa para o público fazer suas perguntas.
A primeira a se apresentar foi a professora Maria Inês, que concentrou sua fala em termos mais técnicos da psicologia e psicanálise. Em suma, Inês construiu seu raciocínio a fim de mostrar que, por causa da maneira que as empresas são regidas atualmente, os trabalhadores têm medo de serem descartáveis ou facilmente substituídos. Assim, estabelece-se um ambiente de violência generalizada, que tem como uma de suas consequências, a coisificação do ser humano. Concluiu afirmando que o suicídio é uma “catástrofe psíquica”. Disse ela: “O sujeito, para entrar na situação de suicídio, não dá mais conta de sua vida, de suas relações interpessoais”.
A próxima a dissertar sobre o tema foi a professora Andréia de Conto Garbin. Andréia direcionou sua apresentação ao assunto do assédio moral. Definiu-o como “repetição de um comportamento hostil de um superior ou um colega”. Como exemplo desse tipo de assédio, citou as cobranças exageradas e punições humilhantes, a discriminação, o isolamento e a competição, categorizando-os como “violência psicológica”.
Garbin ainda chamou a atenção para a cobertura da mídia sobre o assunto, que passou das editorias relacionadas à saúde para as relacionadas a emprego e economia. Além disso, mostrou posicionamentos de empresas sobre o problema. Haveria duas grandes políticas: a precaução empresarial, em que se adquirem apólices de seguro para cobrir possíveis gastos judiciais para funcionários do alto escalão que são acusados de assédio moral (esse posicionamento admite o assédio moral), e a prevenção empresarial, em que se adotam estratégias educativas, como treinamento para os funcionários, e um código de ética empresarial mais rígido (esse posicionamento busca a preservação da imagem empresarial).
Por último houve a exposição do professor Roberto Heloani. Um dos aspectos que trouxe à discussão foi o fato de o assédio moral ser também utilizado como ferramenta para demitirem-se funcionários. Depois, partiu para uma discussão mais aprofundada do suicídio, que disse ser um grande tabu. Já de início, o professor alertou para a possibilidade de o suicídio ser individualizado, “como já se tenta fazer com os assédios moral e sexual”. Para ele, o suicídio, na verdade, reflete as políticas empresariais que violentam psicologicamente o funcionário, como já havia dito a professora Maria Inês.
A seguir, Heloani comentou sobre o fato de homens cometerem mais suicídios do que mulheres. “O homem não pede ajuda, somente quando está desesperado”. Continuando com sua apresentação, o professor apresentou as razões gerais que levam ao suicídio: doenças graves e sem esperança de cura, depressão e problemas psíquicos, falência e problemas financeiros, problemas morais e desemprego. “Para o suicida, essa é a única maneira de se livrar do sofrimento”.
Já sobre as razões que levam ao suicídio no trabalho, apontou a avaliação individual do desempenho, a exigência de “qualidade total” e a rápida desatualização profissional. Ainda dissertando sofre o ambiente profissional hostil, indicou a lógica de resultados a qualquer preço no curto prazo, as reestruturações permanentes e o esvaziamento da profissão, saber e qualificação (transformação do trabalhador em um produto).