São Paulo (AUN - USP) - No dia 31 de maio, a pesquisadora Maria Regina Alves Cardoso expôs alguns resultados obtidos por seu grupo de pesquisa, que se dedica a estudar o efeito que o processo de urbanização gera na saúde da população em geral. A palestra fez parte da primeira mesa redonda do seminário Metrópoles: Política, Planejamento e Gestão em Saúde e Ambiente, realizado no auditório da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP/USP) e que tinha como tema “Políticas públicas e governança para metrópoles”.
Maria Regina formou-se em odontologia pela USP em 1979, completou mestrado na FSP em 1990 e doutorado na área de epidemiologia pela University of London em 1996. Hoje, é professora associada do Departamento de Epidemiologia da FSP e tem como um dos focos principais de sua pesquisa a incidência de doenças respiratórias em crianças.
Segundo os estudos da pesquisadora, o clima das metrópoles tende a se tornar cada vez mais quente e menos úmido, com mais tempestades e menos garoas. Isso se deve principalmente ao desmatamento de áreas verdes, à poluição do ar – que é consequência, principalmente, do aumento do número de veículos automotores – e, em menor grau, às mudanças globais.
Essas condições têm efeitos diretos na saúde da população, revelou a pesquisa. “Vias públicas com densidade de carros alto expõem pessoas a um nível maior de poluentes”, afirma Maria Regina.
O estudo consistiu num levantamento realizado em 13 municípios. Os pesquisadores dividiram a área estudada em células de 250 mil metros quadrados e compararam estatísticas de trânsito fornecidas pela Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), dados demográficos fornecidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e a frequência de internações hospitalares de crianças e idosos.
As conclusões não deixam dúvida: o efeito da presença de automóveis na saúde pública é estarrecedor. “As crianças que vivem em áreas de tráfego intenso de veículos automotores têm uma chance duas vezes e meia maior de serem vítimas de doenças respiratórias do que as que não vivem”, afirma a pesquisadora. No caso de idosos, a estatística é a mesma, mas com um agravante: a incidência de doenças cardiovasculares é multiplicada por cinco nessas áreas. “E não devemos esquecer, também, o efeito do ruído na saúde das crianças.”
São resultados, também, de um processo de urbanização rápida e não planejada. As conclusões da pesquisa devem auxiliar, portanto, na elaboração de políticas de transporte público. ““É necessário assegurar que questões de saúde estejam claramente representadas na agenda”, insiste a pesquisadora.