ISSN 2359-5191

21/06/2011 - Ano: 44 - Edição Nº: 52 - Sociedade - Instituto de Relações Internacionais
Pesquisa busca compreender, através de estatísticas, o pensamento do brasileiro sobre política externa

São Paulo (AUN - USP) - A pesquisa do Instituto de Relações Internacionais da USP (IRI) tem o objetivo de descrever e analisar a percepção dos brasileiros em relação à política externa do país através de um questionário a ser respondido por 2.400 brasileiros. Iniciada em 2010, a pesquisa O Brasil, as Américas e o Mundo conta com a participação de seis pessoas no total.

Entre os pesquisadores, estão os professores do IRI, Leandro Piquet, Amâncio Jorge de Oliveira e Janina Onuki sob a coordenação da diretora do Instituto, professora Maria Hermínia Tavares de Almeida. Além disso, também participam duas professoras de Relações Internacionais, Letícia Pinheiro, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), e Maria Regina Soares de Lima, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).

A pesquisa brasileira está inserida em um projeto internacional, As Américas e o Mundo, que inclui as pesquisas sobre o mesmo tema realizadas em países da América Latina como México, Chile, Colômbia, República Dominicana, Equador e Peru. “Em todos esses países, será aplicado o mesmo questionário sobre política externa e opinião pública para uma amostra grande de pessoas”, explica a professora Janina Onuki. De acordo com a realidade de cada país, há ressalvas nos questionários. No México, por exemplo, pergunta-se sobre o Tratado Norte-americano de Livre Comércio (Nafta), enquanto no Brasil o foco é o Mercosul.

Para captar a percepção da população latina sobre os temas internacionais de maior relevância, o questionário cobre variados temas como cultura, economia, política e segurança em diversos níveis (bilateral, regional e global), relacionando-os com a política externa. Dessa forma, é possível traçar uma comparação entre os resultados de todos os países, principalmente no que se refere à imagem de cada população da posição do seu país no cenário internacional.

A coordenação do projeto internacional fica a cargo do Centro de Investigação e Docência Econômica (Cide) do México. Essa é a terceira pesquisa sobre opinião pública baseada nos questionários que o país realiza. A primeira foi em 2006 e o processo é repetido a cada dois anos.

Para este projeto internacional de 2010, o México é um dos países participantes que já tem os questionários respondidos pela amostra da população. Essa etapa também foi finalizada por Brasil, Colômbia e Equador.

Em 2009, o Cide amplia o projeto e convida instituições de outros países para integrar a pesquisa, como o IRI, por exemplo. “O IRI é um lugar no Brasil onde já se trabalhava com opinião pública e pesquisa. Além disso, temos uma projeção internacional por causa da Universidade de São Paulo”, diz Janina.

Foram estabelecidas parcerias com 11 países, mas somente sete conseguiram recursos para aplicar o questionário a cerca de 2.400 pessoas, segundo prevê o projeto, ainda que em alguns países a amostra tenha sido reduzida para algo em torno de 2.000 pessoas.

“O financiamento da pesquisa fica a cargo de cada país”, diz Janina. “No Brasil, recebemos verba do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Esse tipo de pesquisa custa muito caro, cerca de R$ 300 mil”.

A apresentação pública dos dados comparados entre todos os países deve ocorrer dia 20 de julho, durante o Congresso da Associação Brasileira de Relações Internacionais (Abri) sediado na USP.

A opinião do brasileiro
No Brasil, a aplicação dos questionários terminou em maio. As 2.400 pessoas que foram ouvidas estão espalhadas pelas capitais de todas as regiões do país, segundo a determinação do Cide sobre a amostragem.

Além da população em geral, o mesmo questionário será respondido por cerca de 300 pessoas da elite brasileira. “O objetivo maior é olhar a percepção desses grupos em relação à atuação que o Brasil vem tendo no exterior. Perceber se há apoio ou não. Também iremos comparar a opinião da elite com a opinião pública geral”, diz Janina.

A ampliação da pesquisa para além da elite é um grande avanço. Carlos Aurélio Pimenta de Faria, professor da PUC-MG, ressalta em seu artigo Opinião pública e política externa: insulamento, politização e reforma na produção da política exterior do Brasil que o foco das pesquisas existentes está, em sua maioria, somente na visão da elite.

Pimenta afirma também que a discussão sobre política externa ainda é periférica no Brasil. Para Janina, “o assunto é periférico porque, há pouco tempo, não tínhamos democracia, então não tínhamos opinião publica”.

Com a disseminação da informação, a população passa a dominar temas mais amplos. “O que se tem visto dos outros países que já aplicaram a pesquisa é um grande conhecimento de temas da política externa, maior do que esperávamos”, diz Janina.

Segundo a pesquisa realizada no México em 2008, por exemplo, 52% dos consultados (2.400) se interessam muito ou apenas tem interesse pelas notícias sobre as relações do país com outros países e 28% já viajou para o exterior. No Chile, também em 2008, esses números sobem para 74% e 29% respectivamente.

Os dados mexicanos apontam ainda que 28% da população consultada considera que o México será o país mais influente na América Latina na próxima década. Entre as elites mexicanas, 54% das pessoas pesquisadas apontam o Brasil como país mais influente da região no futuro. No entanto, 67% da elite e 23% da população mexicanas concordam que a Venezuela foi o país mais conflituoso da região nos últimos dez anos.

Política externa em mudança
Pimenta apresenta em seu artigo o caráter insular da política externa brasileira que, muitas vezes, é pensada de forma isolada no Itamaraty, sem a participação de setores do governo e da sociedade.

Por ser um Ministério muito forte, tradicionalmente, a prerrogativa de definição da política externa sempre coube ao Itamaraty. Janina explica que “a estrutura do sistema internacional levava a esse isolamento. As relações internacionais eram somente a relação entre os Estados”.

No entanto, “hoje, houve uma fragmentação dos temas de negociação e, embora o Itamaraty continue nos representando, ele precisa de mais respaldo da sociedade”.

Nos últimos anos, a complexidade do sistema internacional aumentou. Houve uma dispersão de estruturas internacionais, de temas, de parceiros e atores no cenário mundial. “O número de organizações de regimes internacionais cresceu”, diz Janina.

“O vem acontecendo nos últimos 20 anos é que cada vez mais o Itamaraty consulta alguns setores da sociedade. Como a política externa se ampliou e hoje há inúmeras negociações internacionais de diferentes dimensões e temas, fica difícil tomar decisões de maneira isolada, já que algumas decisões afetam os atores domésticos. O Itamaraty está buscando uma legitimidade maior junto à sociedade através do diálogo”.

Além da mudança no sistema internacional, no Brasil especificamente, o processo de democratização de 1988 e a abertura comercial a partir de 1990 também foram decisivos para o aumento de parceiros comerciais e do intercâmbio entre os países.

Devido a esses muitos fatores de mudança e da necessidade de abertura, o processo decisório da política externa brasileira está em transformação. “Hoje, o Brasil tem uma visibilidade internacional e busca uma liderança. Há dez anos, os partidos não tinham sequer um programa de política externa. Agora, esse tema é importante nas eleições”, diz Janina.

Nesse contexto, Pimenta ressalta a importância dos estudos de opinião pública. Para o professor, esses estudos têm o potencial de produzir não apenas novas informações, mas também gerar maior responsabilidade e necessidade de respostas por parte de formuladores e operadores da política externa do país, o que redundaria em maior legitimidade, credibilidade e poder de barganha para o Brasil nas negociações internacionais.

Para saber mais sobre o projeto internacional de pesquisas da opinião pública acesse: http://mexicoyelmundo.cide.edu/. Os dados das pesquisas de 2010 também serão divulgados nesse site.

Leia também...
Agência Universitária de Notícias

ISSN 2359-5191

Universidade de São Paulo
Vice-Reitor: Vahan Agopyan
Escola de Comunicações e Artes
Departamento de Jornalismo e Editoração
Chefe Suplente: Ciro Marcondes Filho
Professores Responsáveis
Repórteres
Alunos do curso de Jornalismo da ECA/USP
Editora de Conteúdo
Web Designer
Contato: aun@usp.br